24 Horas
Alguns autores dizem
que a Terra gira em torno de seu eixo em 24 horas, não parecendo errado
pronunciar-se assim. De fato, ficaria difícil, seria demorado dar a explicação
completa de que não é exatamente assim, o dia não tem efetivamente 24 horas. Fica
parecendo que a Natureza foi extremamente precisa.
Depende também de que dia estamos
falando, pois existe mais de um. Existem vários, segundo Rogério Ronaldo de
Freitas Mourão, em seu Dicionário
Enciclopédico de Astronomia e Astronáutica, Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
1987, p. 235 e ss.: dia sideral (“intervalo
de tempo entre duas passagens superiores sucessivas do equinócio vernal
sobre um mesmo meridiano”), dia sideral médio, dia solar (“duração de uma
rotação da Terra ao redor do seu eixo, em relação ao Sol”), dia solar
verdadeiro, dia solar médio, dia civil (dia solar que começa à meia-noite), dia
astronômico (a partir de 1925 passou a concordar com o dia civil), dia
calendárico (entre meia-noite e meia-noite), dia de efemérides (86.400 segundos
de efemérides), dia de maré (dia lunar), dia epagômeno, dia equinocial, dia
Juliano, dia polar.
Bom, isso não serve
para o cidadão, a pessoa mediana que tem tanto para fazer e não pode se
preocupar com sutilezas.
No livro de Marcelo
Duarte, O Guia dos Curiosos, São
Paulo, Cia. das Letras, 1995 p. 398, ele diz que o ano solar ou tropical tem 365 dias, cinco horas, 48 minutos
e 46 segundos, ou 31.556.926 segundos = 365,24220 dias, e o ano sideral tem 365 dias, seis
horas, nove minutos e dez segundos, ou 31.558.150 segundos = 365,25637 dias, o
que destoa de outro dado, que dá um deles (não me recordo qual, só do número)
como sendo de 365,2427 dias (USEI ESTE VALOR NO MEU TEXTO). Em todo caso
365,25637/365,24220 = 1,0000388 – eles não são muito diferentes.
Tomando o ano solar,
que conduz ao dia solar, uma rotação da Terra, dividindo-o por 365, teremos
1,0006636 dia solar, então com 86.457 segundos e não exatamente 86.400
segundos, passando 57 segundos. Um dia solar teria 24,015925 horas e não
exatamente 24 horas, passando 0,015925 dia. É isso que vai fazer diferença e
exigir a correção pelo acréscimo de dias bissextos a cada quatro anos, pois
0,24220 x 4 = 0,9688000, faltando 0,0312000 para um ano completo (o que leva à
supressão de um dia bissexto a cada 400 anos, veja o calendário gregoriano –
escrevi sobre isso no modelo, em Novo
Relógio, vá ler).
Não é exatamente 24
horas.
Pois 24 horas tem
uma definição precisa: 86.400 segundos, exatamente, e cada segundo é pela nova
definição de 1967 do SI, Sistema Internacional de unidade, “... a duração de
9.192.631.770 períodos da radiação correspondente à transição entre os dois
níveis hiperfinos do estado fundamental do césio-133”.
Ninguém quer tal
definição, de um dia como 86.400 x 9.192.631.770 períodos do césio-133. Só um
pedante pediria algo assim.
Contudo, um dia de definição tem 24 x 60 x 60
segundos, ou 86.400 segundos, como já vimos. É uma coisa muito precisa, pois a
precisão física diz que deve ter entre 86.399,5 e 86.400,5 segundos, enquanto
medição, ou exatamente 86.400 enquanto definição. Nem mais nem menos.
Por aí se vê que
quando dizemos um dia, paira uma dúvida: dia
de definição ou dia civil? É claro que fora das ciências é dia civil e é
isso que deveria estar sendo dito. Nisso é como na convenção de não anotarmos +
1, simplesmente 1, ao passo que escrevemos -1.
Não dizemos DIA
CIVIL, simplesmente DIA, sendo os outros os dias científicos. Dizendo dia não
há problema, mas dizer que o dia tem 86.400 segundos é errado. O dia que tem
86.400 segundos é o dia científico, o de
definição, enquanto o dia de medição
oscila entre aqueles valores.
É preciso ter
cuidado ao afirmar as coisas.
Algum treinamento
nas escolas é esperado.
Vitória,
segunda-feira, 8 de julho de 2002.
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