segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017


Solaris

 

                            Solaris, livro de Stanislaw Lem, é de 1961, tendo sido publicado no Brasil em 1984 pela Francisco Alves, Rio de Janeiro. Está sendo lançado o filme de mesmo nome com o Clooney, ator de ER que migrou para o cinema e é de fato muito bom.

                            Segundo ouvi preliminarmente o filme não foi muito bem aceito pelos comentaristas que o viram em primeira mão, antes do público.

                            Para resumir a estória se passa num planeta vivo, Solaris, que é encontrado pelos humanos, que iniciam a colonização. Pessoas que não poderiam estar ali aparecem à primeira tripulação e ela começa a enlouquecer, motivo da ida da segunda, até onde posso lembrar, pois não reli tudo, só comecei.

                            Creio que as pessoas não entenderam o espírito da coisa.

                            Devemos pensar o que seria uma consciência do tamanho de um mundo inteiro! Essa hipótese foi posta muito antes da chamada Hipótese Gaia, que apregoa ser a Terra um organismo consciente. Na ficção Solaris tem bilhões de anos, veja só, e então das profundezas do espaço, do fundo dos éons aparecem umas criaturinhas engraçadas que tem vestígios de consciência verdadeira, ao modo de pensar de Solaris. São simplórias, mas é possível brincar com elas, satisfazendo seus desejos, inclusive recriando as pessoas que elas amam, suas esposas mortas e seus filhos que estão longe, seus avós e seus cachorros, todas as criaturas que estão em suas diminutas memórias.

                            Ora, Solaris fica fascinado. Não percebe que está ferindo as criaturinhas, que elas se dissolvem, que sofrem, que piram de vez. Só quer ajudar, quer companhia, depois dos bilhões de anos de solidão, deseja conversar, bater papo. Não cresceu, como na Terra, em organismos separados, lá as criaturas se fundiram numa só, vasta e incompreensível de fora. Mas, pobrezinhos dos seres, eles são tão fraquinhos!

                            Imagine Deus, eterno e imortal, vivendo para sempre em solidão – o que Deus faz? Ele cria o universo em que estamos, só para ter com quem falar, mesmo se são criaturas que desaparecem num sopro, num piscar de olhos, mesmo se é preciso olhar com tanta atenção, segundo a segundo.

                            É o que Lem está perguntando: como seria a eternidade? Como seria a imortalidade? Como seria a onisciência? Não são perguntas triviais e estão há 42 anos sem respostas, desde quando ele as fez, de outra maneira. E vão continuar assim, a depender das críticas dos jornalistas.

                            Vitória, segunda-feira, 03 de março de 2003.

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