domingo, 26 de fevereiro de 2017


Separação

 

                            Isso de que quase todos gostam é uma tortura para mim, anarco-comunista, ansioso pela igualdade real dos seres humanos. Entrementes, situado num tempo tão recuado, caminho para o supremo desgosto, o da acumulação.

                            É risível que todos esses não percebam, inclusive os que se diziam revolucionários 30 anos atrás, o quanto a mais simples dilatação de patrimônio nos separa uns dos outros e a que tristes extremos chegamos nós como coletivo através das disparidades. Isso de Bill Gattes ter 60 ou 100 bilhões de dólares, e outras quantias menores, isso de ser o mais rico do mundo é dizer-se o mais separado em todo o planeta.

                            Ser de qualquer elite é ser sempre distinto, criar essa ilusão do “acima” e do “abaixo”. Veja, se Deus ama a todos DO MESMO MODO é porque os vê essencialmente como iguais, isto é, indistintos. Se Deus é, por definição, onipotente (todo-poderoso), onividente (vê tudo), onipresente (está em todos os lugares, o chamado “dom da ubiqüidade”), imortal (está em todo os tempos), se é, em resumo, o Ser Perfeito, e é capaz do mais perfeito dos julgamentos, e se preza a todos igualmente, o DISTANCIAR humanamente não é contrariar Deus?

                            Criar fossos entre um e outro, entre todos e cada um não é eminentemente errado? Não contrasta com a mensagem cristã? Não é anticristão? Assim, em vez da mensagem da demência calvinista que abona o capitalismo com a chamada “ética protestante do trabalho” que justificaria a acumulação desenfreada da América do Norte, o certo não seria a igualdade plena?

                            Deste modo, pressionado pelo amor aos filhos e à humanidade, vou acumular contrariadíssimo. É o fim da picada!

                            Vitória, domingo, 08 de junho de 2003.

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