domingo, 26 de fevereiro de 2017


Paranóia como Valor de Sobrevivência

 

                            A Barsa eletrônica diz: “Paranóia é uma doença mental que se caracteriza por um estado de delírio permanente, internamente bem estruturado, cuja aparente coerência externa resiste à argumentação lógica” e é associada a delírios de grandeza e perseguição.

                            Um dos nossos amigos, RLB, é paranóico, sem dúvida alguma, e nem porisso eu gosto menos dele.

                            Pois ele é capaz de observar a realidade. Em 1977, quando ninguém dizia isso, ele afirmou que Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio (então sem ter adotado o Lula, que é diminutivo de Luís) da Silva tinham sido plantados pelos militares, o primeiro entre os intelectuais e o segundo entre os operários, para serem eventualmente usados na política, isto é, na prateoria de controle do povelite/nação, naturalmente para beneficiar as elites.

                            FHC ficou como presidente de 1994 a 2002 e então entrou o Lula, capitaneando as esperanças de mais de 60 % da população, menos as minhas, de RLB e de menos 40 % dos brasileiros, a maior parte dos quais à direita, eu com certeza anarco-comunista, sabedor que os burgueses como FHC e os aspirantes a pequenos-burgueses como Lula jamais irão verdadeiramente encarnar as lutas dos trabalhadores (não são só operários, mas dos trabalhadores, os que trabalham, inclusive as elites que trabalham; sempre vão defender igualmente os interesses dos aproveitadores).

                            Não deu outra.

                            Guardei essa afirmação do RLB durante 25 anos, até sua confirmação, e vi que toda a paranóia dele tem valor de sobrevivência. Perguntando de outro modo: como é que as doenças sobreviveram, darwnisticamente falando, e como evoluíram, como se tornaram mais aptas? Sabemos que a Organização (em maiúsculas conjuntos ou famílias ou grupos de organizações) geral não sobrevive enquanto tal, nem prospera, se não tiver valor de sobrevivência, isto é, se não tiver utilidade. Portanto, se a paranóia, a esquizofrenia, psicose maníaco-depressiva, fobias, ansiedades, etc., sobrevivem é porque tem utilidades variadas, o que não vem sendo observado. Só pensamos em acabar com elas, como com o vírus da varíola, ao qual a ONU e os EUA queriam dar fim ou, como o povo e os jornalistas dizem enfaticamente, fim definitivo.

                            A paranóia torna o seu portador superatento, embora ao custo de doenças somáticas correspondentes ao estado permanente de tensão da observação.
                            Vitória, domingo, 15 de junho de 2003.

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