terça-feira, 28 de fevereiro de 2017


Que Saudade da Terra!

 

                            No mesmo livro de Asimov, p. 244, ele diz:

                            “Também haveria turismo entre as várias colônias.

                            “Já que a força gravitacional intrínseca de cada colônia seria insignificante, e como todas estariam praticamente à mesma distância do Sol, da Terra e da Lua, viajar de uma para outra custaria pouquíssima energia. Seria mesmo como deslizar sobre o gelo.

                            “Considerando o baixo custo em energia e o fato de que as várias colônias podiam ter culturas bastante diferentes, os visitantes teriam muita coisa para interessá-los e diverti-los. Seria bem possível que todos os colonos fossem os primeiros navegadores espaciais, e essa idéia não lhes causaria nenhum temor”.

                            Pelo contrário.

                            Como disse Clarice Lispector, a falta é a arte, a criadora.

                            Na falta é que valorizamos a presença até detestada de antes. Na Terra andamos sem macacões espaciais, com o corpo livre, recebendo calor, podendo mergulhar na água apenas estando numa praia, fazendo milhares de coisas às quais não atribuímos nenhum valor e que na ausência se tornariam extremamente valorizadas.

                            Pense numa pessoa no espaço, separada da morte apenas pela fina película do traje espacial, que pode ser perfurado a qualquer instante por micrometeoritos – pode parecer bonitinho daqui, mas de lá mesmo será sempre uma assombração, um medo contínuo, pavor chocante. Porque razão as pessoas sairiam das colônias para aventurar-se no espaço desprotegido? Por quê as pessoas sairiam da Terra, sequer? Só sob pressão. Agora é legal porque é uma aventura ir onde ninguém quer ir e a pessoa vai por vontade própria. A diferença será a mesma de trabalhar por prazer no que gostamos e sermos empurrados para tarefas detestáveis.

                            A supressão de tantas variáveis que, no entanto, sabemos estarem agindo a todo instante em nossas vidas agoraqui faz a aventura espacial parecer desejável, mas não será, exceto para alguns, postos em limites que querem freqüentar. Para quase todos seria um desastre. E quanto mais tempo passarem longe da Terra mais angustiados ficarão pelas mínimas coisas. De fato, os governempresas deverão dourar muito a pílula para convencer os cidadãos a se afastarem do que parecerá, mesmo nos lugares mais terríveis, como desertos e gelos, o paraíso, o Jardim da Terra.

                            Vitória, domingo, 22 de junho de 2003.

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