Que Saudade da Terra!
No mesmo livro de
Asimov, p. 244, ele diz:
“Também haveria
turismo entre as várias colônias.
“Já que a força
gravitacional intrínseca de cada colônia seria insignificante, e como todas
estariam praticamente à mesma distância do Sol, da Terra e da Lua, viajar de
uma para outra custaria pouquíssima energia. Seria mesmo como deslizar sobre o
gelo.
“Considerando o
baixo custo em energia e o fato de que as várias colônias podiam ter culturas
bastante diferentes, os visitantes teriam muita coisa para interessá-los e
diverti-los. Seria bem possível que todos os colonos fossem os primeiros
navegadores espaciais, e essa idéia não lhes causaria nenhum temor”.
Pelo contrário.
Como disse Clarice
Lispector, a falta é a arte, a criadora.
Na falta é que
valorizamos a presença até detestada de antes. Na Terra andamos sem macacões
espaciais, com o corpo livre, recebendo calor, podendo mergulhar na água apenas
estando numa praia, fazendo milhares de coisas às quais não atribuímos nenhum
valor e que na ausência se tornariam extremamente valorizadas.
Pense numa pessoa no
espaço, separada da morte apenas pela fina película do traje espacial, que pode
ser perfurado a qualquer instante por micrometeoritos – pode parecer bonitinho
daqui, mas de lá mesmo será sempre uma assombração, um medo contínuo, pavor
chocante. Porque razão as pessoas sairiam das colônias para aventurar-se no
espaço desprotegido? Por quê as pessoas sairiam da Terra, sequer? Só sob
pressão. Agora é legal porque é uma aventura ir onde ninguém quer ir e a pessoa
vai por vontade própria. A diferença será a mesma de trabalhar por prazer no
que gostamos e sermos empurrados para tarefas detestáveis.
A supressão de
tantas variáveis que, no entanto, sabemos estarem agindo a todo instante em
nossas vidas agoraqui faz a aventura espacial parecer desejável, mas não será,
exceto para alguns, postos em limites que querem freqüentar. Para quase todos
seria um desastre. E quanto mais tempo passarem longe da Terra mais angustiados
ficarão pelas mínimas coisas. De fato, os governempresas deverão dourar muito a
pílula para convencer os cidadãos a se afastarem do que parecerá, mesmo nos
lugares mais terríveis, como desertos e gelos, o paraíso, o Jardim da Terra.
Vitória, domingo, 22
de junho de 2003.
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