terça-feira, 28 de fevereiro de 2017


Otto, o Geo-Historiador

 

                            Nas páginas 348 e 349 do livro de Hart ele escreveu, negrito e colorido meus:

                            “Os carros particulares são infinitamente mais flexíveis do que o transporte público e, diferentes de trens e metrôs, por exemplo, deixam a pessoa onde ela desejar e a levam para onde quiser, com serviço de porta a porta. São rápidos, confortáveis, carregam bagagem com facilidade e determinam em grau sem precedente a escolha do local de moradia e da forma de uso do tempo, tendo aumentado consideravelmente o nível de liberdade individual”.

                            E:

                            “O uso do automóvel determinou a construção de grandes áreas de estacionamento e infindáveis quilômetros de superestradas, alterando todo o meio ambiente nesse processo. Em contrapartida, o automóvel fornece mobilidade jamais sonhada por gerações anteriores, e a maioria dos proprietários tem gama de atividades e facilidades disponíveis muito maior do que poderia ter sem o automóvel. Aumenta o poder de escolha do local de trabalho e moradia, e, graças a ele, muitas facilidades antes só disponíveis aos moradores das cidades são agora acessíveis a quem vive em lugares afastados. (Essa talvez tenha sido a principal causa do crescimento dos subúrbios nas décadas recentes e o concomitente declínio das metrópoles nos Estados Unidos).

                            Veja a Psicologia (figuras ou psicanálises, objetivos ou psico-sínteses, produções ou economias, organizações ou sociologias, espaçotempos ou geo-histórias) geral, TUDO e TODOS mexem no espaçotempo, reconformando-o, segundo os níveis (povo, lideranças, profissionais, pesquisadores, estadistas, santos/sábios, iluminados) em patamares crescentes de alteração.

                            Santos Dumont disse, em outras palavras, veja o artigo sobre ele no Scientific American, que inventar um único objeto já reconforma o espaçotempo, já o redefine, já o remodela. Assim, quando Otto substituiu as carroças e carruagens por caminhões e automóveis, não apenas expandiu o espaço e encurtou o tempo de viagem, como principalmente reconfigurou o corpomente humano, mudando as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e os AMBIENTES (municípios/cidades, estados, nações e mundo) por sua Psicologia, como colocada acima. Os objetivos de agoraqui não são os mesmos de antes. Tire os automóveis e caminhões, deixe apenas trens e aviões, barcos e carroças e carruagens e reveja o mundo. Tire os elevadores e veja as cidades murchando na vertical e ampliando-se proibitivamente na horizontal.

                            O que Otto fez, então, foi inventar uma nova humanidade. Poderíamos ficar com tudo que os cientistas e demais pesquisadores altos do conhecimento (mágicos, teólogos, filósofos e cientistas) pensaram e fizeram em termos de elevado saber, mas sem as invenções dos pesquisadores baixos (artistas, religiosos, ideólogos e técnicos) o mundo seria muito menor, incomparavelmente menor. Porisso, como disse Jesus, os últimos serão os primeiros, ou seja, os últimos fizeram muito mais pela expansão que os primeiros.

                            E do mesmo modo que Otto todos os inventores, todos os desprezados freqüentadores de oficinas.

                            Vitória, segunda-feira, 23 de junho de 2003.

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