Otto, o
Geo-Historiador
Nas páginas 348 e
349 do livro de Hart ele escreveu, negrito e colorido meus:
“Os carros
particulares são infinitamente mais flexíveis do que o transporte público e,
diferentes de trens e metrôs, por exemplo, deixam a pessoa onde ela desejar e a
levam para onde quiser, com serviço de porta a porta. São rápidos,
confortáveis, carregam bagagem com facilidade e determinam em grau sem precedente a escolha
do local de moradia e da forma de uso do tempo, tendo aumentado
consideravelmente o nível de liberdade individual”.
E:
“O uso do automóvel
determinou a construção de grandes áreas de estacionamento e infindáveis
quilômetros de superestradas, alterando todo o meio ambiente nesse processo. Em
contrapartida, o automóvel fornece mobilidade jamais sonhada por gerações
anteriores, e a maioria dos proprietários tem gama de atividades e facilidades
disponíveis muito maior do que poderia ter sem o automóvel. Aumenta o poder de
escolha do local de trabalho e moradia, e, graças a ele, muitas facilidades
antes só disponíveis aos moradores das cidades são agora acessíveis a quem vive
em lugares afastados. (Essa talvez tenha sido a principal causa do
crescimento dos subúrbios nas décadas recentes e o concomitente declínio das
metrópoles nos Estados Unidos).
Veja a Psicologia
(figuras ou psicanálises, objetivos ou psico-sínteses, produções ou economias,
organizações ou sociologias, espaçotempos ou geo-histórias) geral, TUDO e TODOS
mexem no espaçotempo, reconformando-o, segundo os níveis (povo, lideranças,
profissionais, pesquisadores, estadistas, santos/sábios, iluminados) em patamares
crescentes de alteração.
Santos Dumont disse,
em outras palavras, veja o artigo sobre ele no Scientific American, que
inventar um único objeto já reconforma o espaçotempo, já o redefine, já o
remodela. Assim, quando Otto substituiu as carroças e carruagens por caminhões
e automóveis, não apenas expandiu o espaço e encurtou o tempo de viagem, como
principalmente reconfigurou o corpomente humano, mudando as PESSOAS
(indivíduos, famílias, grupos e empresas) e os AMBIENTES (municípios/cidades,
estados, nações e mundo) por sua Psicologia, como colocada acima. Os objetivos
de agoraqui não são os mesmos de antes. Tire os automóveis e caminhões, deixe
apenas trens e aviões, barcos e carroças e carruagens e reveja o mundo. Tire os
elevadores e veja as cidades murchando na vertical e ampliando-se
proibitivamente na horizontal.
O que Otto fez,
então, foi inventar uma nova humanidade. Poderíamos ficar com tudo que os
cientistas e demais pesquisadores altos do conhecimento (mágicos, teólogos,
filósofos e cientistas) pensaram e fizeram em termos de elevado saber, mas sem
as invenções dos pesquisadores baixos (artistas, religiosos, ideólogos e
técnicos) o mundo seria muito menor, incomparavelmente menor. Porisso, como
disse Jesus, os últimos serão os primeiros, ou seja, os últimos fizeram muito
mais pela expansão que os primeiros.
E do mesmo modo que
Otto todos os inventores, todos os desprezados freqüentadores de oficinas.
Vitória,
segunda-feira, 23 de junho de 2003.
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