Medindo a Terra
No livro de FC Contato (Rio de Janeiro, Guanabara
Dois, 1986), de Carl Sagan, p. 423, ele diz: “E logo a seguir, no centro exato
da Galáxia, presos num apaixonado amplexo gravitacional, havia um par de
imensos buracos negros. Um deles tinha massa equivalente a cinco milhões de
estrelas iguais ao Sol. Dele fluíam rios de gás do tamanho do sistema solar.
Dois buracos negros colossais – como eram limitadas as línguas da Terra! –
supergigantescos, giravam um em volta do outro no centro da Galáxia”.
Quando se diz
Galáxia é sempre a Via Láctea.
A distância de
Plutão ao Sol é de 5 horas-luz, coisa de 12 bilhões de quilômetros de diâmetro
para o sistema solar, quase um milhão de diâmetros da Terra; para comparação o
diâmetro do Sol é 100 o do nosso planeta. Então nosso “mundinho” parece bem
pequeno, mesmo, dentro do que chamei de RACIONALISMO AMEBIANO, o excesso de
raciocínio das amebas (se somos um cisco, os que moramos aqui somos o quê? –
somos amebas pensantes?). Acontece que essa é apenas a dimensão físico-química,
existem muitas outras para cima. Veja o Conhecimento (Magia/Arte,
Teologia/Religião, filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) geral,
nele a pontescada tecnocientífica, em particular a pontescada científica
(Física/Química, biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5
e Dialógica/p.6). Ora, se a Terra é física-quimicamente diminuta, não é o é
psicologicamente, pelo contrário, é um gigante, muito maior que aquele enorme
jato de energia e matéria.
Aliás, o livro é de
ficção, porque os astrônomos não descobriram, ao que eu saiba, dois, mas apenas
um buraco negro, e não de cinco mas de trinta milhões de massas solares.
Na página 425, Carl
Sagan vai mais longe em sua ficção: “Se Cignus A estava a 600 milhões de
anos-luz, então os astrônomos da Terra – ou, aliás, de qualquer parte da Via
Láctea – estavam a observá-la como ela fora há 600 milhões de anos. Entretanto,
há seiscentos milhões de anos não havia na Terra nenhuma forma de vida, nem nos
oceanos, de tamanho suficiente para que se pudesse mexer com um pauzinho. Eles
eram velhos”.
Por
sinal, 600 milhões de anos tem apenas a chamada “explosão Cambriana”, porque a
vida mesmo na Terra foi detectada desde 3,8 bilhões de anos, apenas 700 milhões
de anos depois da formação da esfera quente de gás que se tornou o planeta
resfriado. Mal tinha acontecido isso e a Vida já tinha gravado as garras.
Então, trata-se de informação errada, embora Ann Druyan, esposa do autor (que
faleceu) seja bióloga.
Ainda na página 424,
ele diz: “A fonte de rádio focalizava-se a seiscentos milhões de anos-luz,
muito além da Via-Láctea, já no domínio das galáxias. Tal como acontecia com
muitas fontes de rádio extragalácticas, dois enormes jatos de gás,
distanciando-se quase à velocidade da luz, produziam uma complexa rede de ondas
de choque de Rankine-Hugoniot com o tênue gás intergaláctico – e no processo
geravam um farol de rádio que reluzia intensamente sobre a maior parte do
universo. Toda a matéria dessa enorme estrutura que tinha quinhentos mil
anos-luz de diâmetro, jorrava de um minúsculo ponto de luz no espaço, quase
imperceptível, e que se localizava exatamente entre os jatos”.
Como se diz, tamanho
não é documento.
Como a distância do
Sol até a estrela mais próxima, Alfa do Centauro, é de 4,5 anos-luz, podemos
tomar 2,25 x 2 = 4,5 anos-luz como sendo o diâmetro final da área de influência
do sistema solar. Ora, aquele tubo de gás de 500 mil anos-luz é cinco vezes o
diâmetro do toda a Via Láctea e mais de 110 mil vezes tudo que o Sol pode reivindicar.
Mas lá não nasceu vida, não medrou nada, tudo está morto, é só ruído.
Pequenininha como é
a Terra, ela é uma jóia de Vida e de Vida-racional, enquanto tais gigantes não
passaram da fase muito atrasada de modelação físico-química.
Vitória,
terça-feira, 10 de junho de 2003.
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