sábado, 25 de fevereiro de 2017


Medindo a Terra

 

                            No livro de FC Contato (Rio de Janeiro, Guanabara Dois, 1986), de Carl Sagan, p. 423, ele diz: “E logo a seguir, no centro exato da Galáxia, presos num apaixonado amplexo gravitacional, havia um par de imensos buracos negros. Um deles tinha massa equivalente a cinco milhões de estrelas iguais ao Sol. Dele fluíam rios de gás do tamanho do sistema solar. Dois buracos negros colossais – como eram limitadas as línguas da Terra! – supergigantescos, giravam um em volta do outro no centro da Galáxia”.

                            Quando se diz Galáxia é sempre a Via Láctea.

                            A distância de Plutão ao Sol é de 5 horas-luz, coisa de 12 bilhões de quilômetros de diâmetro para o sistema solar, quase um milhão de diâmetros da Terra; para comparação o diâmetro do Sol é 100 o do nosso planeta. Então nosso “mundinho” parece bem pequeno, mesmo, dentro do que chamei de RACIONALISMO AMEBIANO, o excesso de raciocínio das amebas (se somos um cisco, os que moramos aqui somos o quê? – somos amebas pensantes?). Acontece que essa é apenas a dimensão físico-química, existem muitas outras para cima. Veja o Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) geral, nele a pontescada tecnocientífica, em particular a pontescada científica (Física/Química, biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5 e Dialógica/p.6). Ora, se a Terra é física-quimicamente diminuta, não é o é psicologicamente, pelo contrário, é um gigante, muito maior que aquele enorme jato de energia e matéria.

                            Aliás, o livro é de ficção, porque os astrônomos não descobriram, ao que eu saiba, dois, mas apenas um buraco negro, e não de cinco mas de trinta milhões de massas solares.

                            Na página 425, Carl Sagan vai mais longe em sua ficção: “Se Cignus A estava a 600 milhões de anos-luz, então os astrônomos da Terra – ou, aliás, de qualquer parte da Via Láctea – estavam a observá-la como ela fora há 600 milhões de anos. Entretanto, há seiscentos milhões de anos não havia na Terra nenhuma forma de vida, nem nos oceanos, de tamanho suficiente para que se pudesse mexer com um pauzinho. Eles eram velhos”.

                            Por sinal, 600 milhões de anos tem apenas a chamada “explosão Cambriana”, porque a vida mesmo na Terra foi detectada desde 3,8 bilhões de anos, apenas 700 milhões de anos depois da formação da esfera quente de gás que se tornou o planeta resfriado. Mal tinha acontecido isso e a Vida já tinha gravado as garras. Então, trata-se de informação errada, embora Ann Druyan, esposa do autor (que faleceu) seja bióloga.

                            Ainda na página 424, ele diz: “A fonte de rádio focalizava-se a seiscentos milhões de anos-luz, muito além da Via-Láctea, já no domínio das galáxias. Tal como acontecia com muitas fontes de rádio extragalácticas, dois enormes jatos de gás, distanciando-se quase à velocidade da luz, produziam uma complexa rede de ondas de choque de Rankine-Hugoniot com o tênue gás intergaláctico – e no processo geravam um farol de rádio que reluzia intensamente sobre a maior parte do universo. Toda a matéria dessa enorme estrutura que tinha quinhentos mil anos-luz de diâmetro, jorrava de um minúsculo ponto de luz no espaço, quase imperceptível, e que se localizava exatamente entre os jatos”.

                            Como se diz, tamanho não é documento.  

                            Como a distância do Sol até a estrela mais próxima, Alfa do Centauro, é de 4,5 anos-luz, podemos tomar 2,25 x 2 = 4,5 anos-luz como sendo o diâmetro final da área de influência do sistema solar. Ora, aquele tubo de gás de 500 mil anos-luz é cinco vezes o diâmetro do toda a Via Láctea e mais de 110 mil vezes tudo que o Sol pode reivindicar. Mas lá não nasceu vida, não medrou nada, tudo está morto, é só ruído.

                            Pequenininha como é a Terra, ela é uma jóia de Vida e de Vida-racional, enquanto tais gigantes não passaram da fase muito atrasada de modelação físico-química.

                            Vitória, terça-feira, 10 de junho de 2003.

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