Potência Pedagógica
do Caos
Do livro de Richard
Tarnas, A Epopéia do Pensamento
Ocidental, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1999, p. 105, temos esta
passagem:
“Ali estavam
inúmeras correntes significativas, mas o conjunto não tinha uma coerência. O panorama
cultural era indefinido, alternadamente cético e dogmático, sincrético e
fragmentado. Os
centros de aprendizado muito organizados pareciam ter um efeito de desestímulo
sobre o espírito do indivíduo. No momento em que Roma conquistou a
Grécia, no século II a.C., o vigor da cultura helênica já estiolava. Deslocado
pela visão mais oriental da subordinação do ser humano às forças avassaladoras
do sobrenatural”, negrito e colorido meus.
É bom que à ordem
excessiva, ao dogmatismo, ao controladíssimo da ortodoxia sobrevenha a irrupção
do heterodoxo, a alegria do distante, o arremedo do caos, a festa das
assombrações desobedientes, outras potências que não obedecem ao ímpeto
castrador dos conservadores, que assome a expansão desmedida e arremetida das
crianças, a vibração dos desenquadrados, a miséria das filosofias
incapacitantes.
Com que frisson, com
que arrepios a gente depara com o novo, com o não-sabido, com a visão
diferente, posta ligeiramente de lado mas vendo mundos e fundos, MODELOS e
PIRÂMIDES, na Rede Cognata. O que é tudo certinho é ótimo, mas por outro lado o
distinto traz renovação de nossas almas.
Porisso, se a Ordem
geral ensina, o Caos geral também o faz, não obstante com uma aceitação muito
menor na pedagogia oficial, isto, nas tecnartes aceitas de transferência de
conhecimento. As urgências das necessidades extrativas das burguesias fazem com
que fique mais ou menos proibida a liberdade do Caos. Só há espaçotempo ou
geo-história para a Ordem. Não há permissão, nem explícita nem implícita, para
as distorções, os desfocamentos, as dissonâncias. Contudo, que oportuno seria
fazê-lo! Aliás, diz da incompetência de nossa civilização que o Caos tenha sido
banido, até o aparecimento relativamente marginal da geometria do caos (e dos
fractais, cuja promessa festivamente aceita foi a de, justamente, organizar o
caos que se insinuava).
Vitória,
terça-feira, 24 de junho de 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário