terça-feira, 28 de fevereiro de 2017


Potência Pedagógica do Caos

 

                            Do livro de Richard Tarnas, A Epopéia do Pensamento Ocidental, Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1999, p. 105, temos esta passagem:

                            “Ali estavam inúmeras correntes significativas, mas o conjunto não tinha uma coerência. O panorama cultural era indefinido, alternadamente cético e dogmático, sincrético e fragmentado. Os centros de aprendizado muito organizados pareciam ter um efeito de desestímulo sobre o espírito do indivíduo. No momento em que Roma conquistou a Grécia, no século II a.C., o vigor da cultura helênica já estiolava. Deslocado pela visão mais oriental da subordinação do ser humano às forças avassaladoras do sobrenatural”, negrito e colorido meus.

                            É bom que à ordem excessiva, ao dogmatismo, ao controladíssimo da ortodoxia sobrevenha a irrupção do heterodoxo, a alegria do distante, o arremedo do caos, a festa das assombrações desobedientes, outras potências que não obedecem ao ímpeto castrador dos conservadores, que assome a expansão desmedida e arremetida das crianças, a vibração dos desenquadrados, a miséria das filosofias incapacitantes.

                            Com que frisson, com que arrepios a gente depara com o novo, com o não-sabido, com a visão diferente, posta ligeiramente de lado mas vendo mundos e fundos, MODELOS e PIRÂMIDES, na Rede Cognata. O que é tudo certinho é ótimo, mas por outro lado o distinto traz renovação de nossas almas.

                            Porisso, se a Ordem geral ensina, o Caos geral também o faz, não obstante com uma aceitação muito menor na pedagogia oficial, isto, nas tecnartes aceitas de transferência de conhecimento. As urgências das necessidades extrativas das burguesias fazem com que fique mais ou menos proibida a liberdade do Caos. Só há espaçotempo ou geo-história para a Ordem. Não há permissão, nem explícita nem implícita, para as distorções, os desfocamentos, as dissonâncias. Contudo, que oportuno seria fazê-lo! Aliás, diz da incompetência de nossa civilização que o Caos tenha sido banido, até o aparecimento relativamente marginal da geometria do caos (e dos fractais, cuja promessa festivamente aceita foi a de, justamente, organizar o caos que se insinuava).

                            Vitória, terça-feira, 24 de junho de 2003.

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