sábado, 25 de fevereiro de 2017


Nada Mais Distante

 

                            O filme Contato é de 1997 e tem Jodie Foster encabeçando o elenco. Um certo Adílson Chinatto Jr., comentando-o, diz pela Internet que “Contato é sem dúvida um dos filmes de ficção científica mais bem construídos da história” e que Carl Sagan, astrofísico autor do livro, e Ann Druyan, bióloga e sua esposa e parceira de vários textos, teriam acompanhado de perto.

                            Em primeiro lugar, o livro de mesmo nome (Rio de Janeiro, Guanabara Dois, 1986, original americano de 1985) tem 500 páginas e é complicadíssimo. Envolve hipóteses sobre pi = 3,141592..., e várias coisas muito interessantes, que estão longe de terem sido retratadas no filme.

                            Depois, para valorizar a egomania de Jodie Foster, colocaram-na sozinha na película, enquanto no livro a americana Ellen Arroway (way, caminho, e arrow, flecha, seta, no inglês – que deve ser algo como pontaria, mira) vai com mais quatro dentro do dodecaedro condutor (Vaygay, soviético; Abonneba Eda, físico-matemático nigeriano muçulmano sufita suposto descobridor da “grande unificação”; Xi, chinês nascido durante a Grande Marcha, portanto, comunista; Devi Sukhavati, indiana – duas mulheres e três homens; três capitalistas e dois comunistas). Em 1985, quando o livro foi escrito, a URSS já existia; em 1997, quando o filme foi feito, ela tinha desabado.

                            Porém, quando os viajantes chegam na Grande Estação onde os viajantes espaciais se cruzam há para eles uma praia com água fazendo marolas, há siris atravessando de lado, toda uma delicadeza que está ausente na brutalidade do filme. Enfim, nada existe de mais distante do livro que esse filme. Não obstante Carl Sagan diz no posfácio que o livro foi feito a partir de um roteiro de 1980/1para filme, dum pequeno roteiro saindo um grande livro, deste um pequeno filme.

                            Tudo porque quiseram supervalorizar a Jodie Foster como vendedora de imagem, com isso prejudicando tremendamente a dignidade da estória do livro. É uma pena. Na realidade é totalmente absurdo o que a indústria cinematográfica de Hollywood e americana em geral fazem.

                            Vitória, segunda-feira, 09 de junho de 2003.

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