domingo, 26 de fevereiro de 2017


Sustentando os Vícios dos Artistas

 

                            Durante um tempo os artistas fumavam e quase todos, por gosto ou imitação, fumavam também. Contemporânea dessa tendência foi o consumo exagerado de bebidas, com fileiras e fileiras deles e delas, atores e atrizes, e diretores (na ocasião os diretores eram em número quase insignificante) consumindo desbragadamente nos filmes e na realidade. Depois foi a mania da maconha, a seguir a cocaína, as roupas, as jóias, todos tipo de desejo verdadeiro dos artistas ou dos personagens que interpretavam em seus filmes, com figurinos ou gestos sempre imitadíssimos, em toda a mídia (Tv, Revista, Jornal, Livro, Rádio e agora Internet).

                            E onde vão parar todos esses vícios senão nos corpos e nas mentes dos que assistem, ouvem, lêem? Saem das telas e vão se alojar nos corpos e nos cérebros dos telespectadores das novelas de TV. Como a soma é zero, ao lado do positivo que pegamos vem o negativo. Assim, à comilança do cinema seguiu-se a comilança na chamada “vida real”, a vida, enfim.

                            Aqueles e aquelas lá, dentro e fora das telas, passaram-nos uma quantidade inominável de vícios, desde os brandos e tratáveis até os incrustados e intratáveis, que se alojaram fundo em nossas almas. O custo disso para as PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e para os AMBIENTES (municípios/cidades, estados, nações e mundo) foi gigantesco, inavaliável.

                            Quem poderá avaliar o custo geral, coletivo, dos vícios que nos foram passados pela indústria do entretenimento? Quantos, achando bonitinho imitar o gestual de seus artistas prediletos não sofreram de câncer de pulmão em virtude do sobreconsumo de cigarros?

                            Eles deveriam ser capazes de refletir sobre isso, depurando os filmes, exceto quando se tratasse mesmo de representação histórica fiel, não-caricata, pois o passivo é muito alto. A diversão deve andar passo a passo com a dignidade das gentes e a retração das despesas. Muito de uma coisa, exagero dela, só pode resultar em dano.

                            Vitória, sábado, 14 de junho de 2003.

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