sábado, 25 de fevereiro de 2017


Estátua de Jenner

 

                            No livro de Hart, p. 401 e ss., ele fala de Edward Jenner (médico inglês, 1749 a 1823), e na página 404 diz: “Jenner ofereceu sua técnica gratuitamente para a humanidade sem desejar lucrar com ela”, e, mais abaixo: “Mas, apesar de ele não ter sido um cientista original muito destacado, existem poucos que tenham feito tanto em benefício da humanidade. Por suas investigações, experiências e artigos, transformou uma crença popular, que a categoria médica nunca levara a sério, em prática padrão que salvou e vem salvando milhões de vidas”.

                            Jenner começou a aplicação de vacinas contra a varíola.

                            Diz o autor, p. 401: “A varíola era tão contagiosa, que a quase totalidade dos habitantes da Europa pegava a doença em algum período da vida. E era tão virulenta, que cerca de dez a vinte por cento dos que a contraíam morriam. Dos que sobreviviam, outros dez a quinze por cento ficavam permanentemente marcados por cicatrizes características”.

                            Imagine se dos seis bilhões de seres humanos (já aumentamos quase 200 milhões desde o ano 2000) 10 a 20 %, ou seja, 600 a 1.200 milhões morressem caso a varíola se instalasse em nossos dias! E dos 90 ou 80% que sobrassem, mais 480 a 810 milhões ficassem com as horríveis cicatrizes das feridas! O que seria isso para as mulheres? Ainda em 1967 ou 1968 fomos ver Wilson, funcionário no escritório de contabilidade dos meus tios Alvacy e Dalsten Perim, estendido na cama, com o corpo todo tomado delas, e era terrível de se ver, ainda mais porque ele não tinha como adormecer, coçando-se continuamente, e abrindo ainda mais as feridas. Como foi que não pegamos eu não sei, pois chegamos a tocar nele.

                            Veja só o que Jenner fez.

                            E como ele outros.

                            Entretanto, não ouço falar que nas nações tenham levantado a ele estátuas, em memória, em agradecimento, porque de fato elas nada adiantam para ele, sim para nós, para afirmar e reafirmar que sabemos ser agradecidos. Milhões de mortes, sobrecargas para os vivos; a dor dos vivos, enquanto estão, a dor dos que sobrevivem, o olhar de repugnância dos outros. Era um mundo primitivo – e há apenas 200 anos. Imagine-se quantas vidas e quanto sofrimento foi poupado.

                            O Brasil mesmo é um país ingrato, não constrói estátuas, nem edifica lugares onde as pessoas possam ir refletir sobre essa gente esforçada.

                            Vitória, sábado, 14 de junho de 2003.

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