Estátua de Jenner
No livro de Hart, p.
401 e ss., ele fala de Edward Jenner (médico inglês, 1749 a 1823), e na página
404 diz: “Jenner ofereceu sua técnica gratuitamente para a humanidade sem
desejar lucrar com ela”, e, mais abaixo: “Mas, apesar de ele não ter sido um
cientista original muito destacado, existem poucos que tenham feito tanto em
benefício da humanidade. Por suas investigações, experiências e artigos,
transformou uma crença popular, que a categoria médica nunca levara a sério, em
prática padrão que salvou e vem salvando milhões de vidas”.
Jenner começou a
aplicação de vacinas contra a varíola.
Diz o autor, p. 401:
“A varíola era tão contagiosa, que a quase totalidade dos habitantes da Europa
pegava a doença em algum período da vida. E era tão virulenta, que cerca de dez
a vinte por cento dos que a contraíam morriam. Dos que sobreviviam, outros dez
a quinze por cento ficavam permanentemente marcados por cicatrizes
características”.
Imagine se dos seis
bilhões de seres humanos (já aumentamos quase 200 milhões desde o ano 2000) 10
a 20 %, ou seja, 600 a 1.200 milhões morressem caso a varíola se instalasse em
nossos dias! E dos 90 ou 80% que sobrassem, mais 480 a 810 milhões ficassem com
as horríveis cicatrizes das feridas! O que seria isso para as mulheres? Ainda
em 1967 ou 1968 fomos ver Wilson, funcionário no escritório de contabilidade
dos meus tios Alvacy e Dalsten Perim, estendido na cama, com o corpo todo
tomado delas, e era terrível de se ver, ainda mais porque ele não tinha como
adormecer, coçando-se continuamente, e abrindo ainda mais as feridas. Como foi
que não pegamos eu não sei, pois chegamos a tocar nele.
Veja só o que Jenner
fez.
E como ele outros.
Entretanto, não ouço
falar que nas nações tenham levantado a ele estátuas, em memória, em
agradecimento, porque de fato elas nada adiantam para ele, sim para nós, para
afirmar e reafirmar que sabemos ser agradecidos. Milhões de mortes, sobrecargas
para os vivos; a dor dos vivos, enquanto estão, a dor dos que sobrevivem, o
olhar de repugnância dos outros. Era um mundo primitivo – e há apenas 200 anos.
Imagine-se quantas vidas e quanto sofrimento foi poupado.
O Brasil mesmo é um
país ingrato, não constrói estátuas, nem edifica lugares onde as pessoas possam
ir refletir sobre essa gente esforçada.
Vitória, sábado, 14
de junho de 2003.
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