domingo, 26 de fevereiro de 2017


Percepção Sob Demanda

 

                            No livro O Que é Psicologia, 17ª edição, Rio de Janeiro, José Olympio, 1989, de Richard H. Henneman, ele diz, p. 13:

                            “Os filósofos da escola rival – o racionalismo alemão – opunham-se à maioria das idéias dos empiristas. Menosprezavam o papel da percepção sensorial como a principal fonte das idéias e conhecimentos, afirmando que a mente humana tem a capacidade inata de gerar idéias independentemente da estimulação ambiental”.

                            Não é uma coincidência que ao chegar diante de uma casa eu gere a idéia independentemente da existência dela, mas não antes de vê-la? E que ao abrir a porta eu vá gerando a idéia de corredor, de sala, de quarto, de cozinha, de banheiro, de área de serviço e de todo lugar que de fora eu era incapaz de gerar? E que chegando à cozinha eu gere as idéias de móveis e ao abrir as gavetas (mas não antes) eu gere as idéias dos objetos dentro delas? E que eu não consiga gerar de dentro das casas nas quais eu nunca entrei as idéias de tudo que está lá dentro? Por similitude com o vídeo on demand (vídeo sob procura) eis aí a IDÉIA SOB DEMANDA ou procura, que nos vem quando delas necessitamos, mas nunca quando não vemos ou não estamos próximos daquelas coisas a que elas devem se assemelhar.

                            Claro, é pura coincidência que eu gere independentemente a idéia de navio só na presença dele e vá gerando as coisas de dentro dele só quando as cascas de fora são retiradas. Como é que alguém, não digo fazer acreditar, porque a gente por amizade acredita em tantas coisas, mas como é que alguém acredita nisso por sua própria conta?

                            Daí podemos comentar outras passagens do livro.

  • A MENTE VAZIA DE JOHN LOCKE (p. 11): “O primeiro empirista, John Locke (1632-1704) afirmava que a mente do recém-nascido era um espaço vazio e que seu conteúdo – sensações, imagens e idéias – tinha como fontes as impressões sensoriais do mundo externo obtidas através da percepção”. Como a criança está emergindo no mundo no momento do nascimento e não pode, por definição de instante zero do dar à luz, ter recebido impressões externas, aparentemente Locke está certo. Entretanto, devemos pensar que o bebê ficou, digamos, nove meses, 9 x 30, uns 270 dias na barriga da mãe e desde cedo recebeu impressões variadas, das quais não vem vazio, exatamente. Claro, não ouviu pelo ouvido palavras, mas tem sensações variadíssimas – devemos aceitar isso. Depois, consideremos que não é precisamente tabula rasa, o modelo o diz; vem com a micropirâmide (campartícula fundamental, subcampartículas, átomos, moléculas, replicadores, células, órgãos, corpomentes) já montada, começa como indivíduo, tudo aquilo já está pronto. A forma humana de corpo já vem pronta, as reações possíveis de aprendizado também. Vem prontas as estruturas perceptivas, a capacidade humana de aprender e ensinar os conceitos (ou como se daria a absorção da língua?). Vemos que Locke está parcialmente certo, mas também errado. A mente do recém-nascido não é vazia, a menos que digamos que de palavras, o que por definição será. Para raciocinar assim ele não precisava de conhecimento de biologia molecular, nem de nada que estivesse 300 anos no futuro.
  • CLASSIFICAÇÃO (p. 4): “Muito freqüentemente o psicólogo, o psiquiatra e o psicanalista são apresentados como uma e a mesma pessoa.1 (1) O psicólogo profissional geralmente possui o grau de doutor em Filosofia (Ph.D.) e pode desempenhar um grande número de atividades, tais como as relacionadas na última parte deste livro. O psiquiatra é um médico que trata de pacientes com perturbações mentais. Psicanalista é a denominação aplicada ao psiquiatra ou ao psicólogo adepto dos conceitos e teorias de Sigmund Freud, ou que segue os métodos de Freud no diagnóstico e tratamento de pacientes”. Bom, o modelo resolve tudo isso. Conhecimento: Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática. Ciência: Física/Química, Biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5, Dialógica/p.6. Técnica: Engenharia/X1, Medicina/X2, Psiquiatria/X3, Cibernética/X4, Astronomia/X5, Discursiva/X6. Veja que estão marcadas em azul a ciência (técnica alta, Psicologia, uma família ou grupo ou conjunto de psicologias) e a técnica (ciência baixa, grupo ou conjunto ou família de psiquiatrias). Psicologia: psicanálise (figuras), psico-síntese (objetivos), economia (produção), sociologia (organização), geo-história (espaçotempo). Veja como ficou fácil, transparente, identificar as relações!

Repare que os que estudam os corpomentes ou psicologias ou almas ou racionalidades estão atrasados, em relação ao modelo.

De atribuírem a percepção à demanda ideal pelo sujeito sozinho, em solipsismo, até a posição oposta transitam, balizando sempre, batendo à esquerda e à direita, chocando-se com os extremos, oscilando terrivelmente entre os pares polares opostos/complementares, sem qualquer combinação deles.

E pensar que se passaram 130 anos desde quando Wundt (Wilhelm, fisiologista alemão fundador da psicologia experimental, 1832 a 1920, 88 anos entre datas, média de vida em 1876 + 150 = 2026) apresentou suas teorias inicialmente. Alguma coisa está errada aí.

Vitória, terça-feira, 10 de junho de 2003.

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