Proximidade Humana
Diz Asimov no livro
citado, p. 243:
“Vamos refletir:
“Para começar, o vôo
espacial é uma coisa exótica para as pessoas da Terra, algo capaz de levá-las
para longe do mundo onde vivem e onde uma vida ancestral se desenvolveu por um
período de mais de 3 bilhões de anos.
“Por outro lado, o
vôo espacial seria a própria essência da vida dos colonos do espaço”.
Na Rede Cognata
(veja Livro 2, artigo Rede e Grade
Signalíticas), exótica = MORTAL. E, segundo as mais recentes avaliações, na
realidade 3,8 bilhões de anos é quanto dura já a Vida geral na Terra.
Veja, na Terra temos
cerca de um G, ou gravidade padrão, ao passo que no espaço os poços
gravitacionais variariam de quase zero a até muitos G’s. As temperaturas, que
aqui, conforme as regiões, ficam em média em 280, 290, 300 (27º C), 310 K, no
espaço estariam próximas de 0 K, nas partes ocultas do Sol, até altas
temperaturas nas partes voltadas para ele.
Pior que tudo isso,
esse apertamento de 6,2 bilhões de seres humanos que vemos em quase toda, em
quase qualquer parte, e que desprezamos e detestamos, faria a maior falta lá
fora, sem falar nos 1,8 milhões de espécies já listadas e nos 30 milhões que se
supõe existir. Cada uma delas, até a menor e mais insignificante de todas, seria
uma preciosidade no espaço exterior. Como a Clarice Lispector já disse com
outras palavras, basta faltar para nos darmos conta de como era importante. A
essência da vida espacial não seria o vôo, logo corriqueiro, mas aquilo que os
colonos deixaram para trás, a própria Vida, então objeto de reverência total.
Como os colonos americanos do Norte e americanos em geral viraram-se (e ainda
se viram) para a Europa, os de fora se virariam para dentro, tendo verdadeiras
apoplexias com a morte de espécies, escandalizados com a falta de atenção dos
que ficarem para com as mínimas formas dos seres.
Claro, os seres
humanos acima de tudo.
As criaturas de fora
ficariam verdadeiramente enlouquecidas com a falta de proximidade no espaço, de
forma que os lugares mais ambicionados não seriam os de isolamento, como aqui,
mas os de proximidade, as praças, os parques, os locais de ajuntamento, de
aglomeração.
É tudo ao contrário
do que pensam os ficcionistas.
Quase ninguém tem a
sabedoria de valorizar o que já tem.
Vitória, domingo, 22
de junho de 2003.
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