terça-feira, 28 de fevereiro de 2017


O Que Restou aos Jovens

 

                            A URSS durou de 1917 a 1991, 74 anos, e enquanto isso deu esperanças a muitos povos do mundo, embora no final capengasse nitidamente, violentada por Gorbatchev, mas padecendo internamente de seus próprios males intelectuais.

                            A URSS por vontade própria em 1917, a seguir a 1945 seus satélites forçadamente, a China em 1949, Cuba em 1959, o Vietnam em 1975, vários pelo caminho, parecia que o mundo iria ser libertado da opressão burguesa, mas tudo acabou em 1991.

                            Na realidade não passava de uma mentira deslavada dos intelectuais interesseiros, voltados para o atendimento de suas necessidades, em nome do coletivo sublimado.

                            Mas, até que ficasse transparente, na década dos 1950 (que não peguei), na dos 1960 (que peguei em parte, de 1968 para frente, quando já estava terminando), arrastando-se na dos 1970, já sem fôlego na dos 1980, pelo menos sonhávamos, imaginávamos que estávamos participando de algum gênero de mudança. Os intelectuais mentiam e nós acreditávamos.

                            Havia aqueles que se diziam revolucionários e mais tarde, como previu Belchior, foram contar as moedinhas, encastelaram-se nas atividades burguesas justificadas (“se eu não fizer outro fará”; “também preciso viver”; “tenho de defender o uísque das crianças”) e racionalizadas. No entanto, pelo menos havia aparência, simulação que fosse.

                            E hoje?

                            Depois dos iuppies terem levado o mundo ao contrário do movimento hippie, depois de terem travestido o mundo de elegância e pose, o que sobrou? Os jovens de agora não têm mais motivação, não tem mais projeto de vida, não tem como sequer pensar em ajudar o coletivo a mudar, quanto mais revirar a mesa de ponta-cabeça.

                            Entrementes, a dialética diz que de onde não se espera nada é que surge; ou, como diz o Tao: “o que parece não é, e o que é não parece”. Ou como dizia Baden Powell: “o homem que diz ‘dou’, não dá”.

                            Tomara que sim, que eles possam fazer o que minha geração mentirosa não foi capaz, por excesso de falatório.

                            Vitória, quarta-feira, 18 de junho de 2003.

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