O Que Restou aos
Jovens
A URSS durou de 1917
a 1991, 74 anos, e enquanto isso deu esperanças a muitos povos do mundo, embora
no final capengasse nitidamente, violentada por Gorbatchev, mas padecendo
internamente de seus próprios males intelectuais.
A URSS por vontade
própria em 1917, a seguir a 1945 seus satélites forçadamente, a China em 1949,
Cuba em 1959, o Vietnam em 1975, vários pelo caminho, parecia que o mundo iria
ser libertado da opressão burguesa, mas tudo acabou em 1991.
Na realidade não passava
de uma mentira deslavada dos intelectuais interesseiros, voltados para o
atendimento de suas necessidades, em nome do coletivo sublimado.
Mas, até que ficasse
transparente, na década dos 1950 (que não peguei), na dos 1960 (que peguei em
parte, de 1968 para frente, quando já estava terminando), arrastando-se na dos
1970, já sem fôlego na dos 1980, pelo menos sonhávamos, imaginávamos que
estávamos participando de algum gênero de mudança. Os intelectuais mentiam e
nós acreditávamos.
Havia aqueles que se
diziam revolucionários e mais tarde, como previu Belchior, foram contar as
moedinhas, encastelaram-se nas atividades burguesas justificadas (“se eu não
fizer outro fará”; “também preciso viver”; “tenho de defender o uísque das
crianças”) e racionalizadas. No entanto, pelo menos havia aparência, simulação
que fosse.
E hoje?
Depois dos iuppies
terem levado o mundo ao contrário do movimento hippie, depois de terem
travestido o mundo de elegância e pose, o que sobrou? Os jovens de agora não
têm mais motivação, não tem mais projeto de vida, não tem como sequer pensar em
ajudar o coletivo a mudar, quanto mais revirar a mesa de ponta-cabeça.
Entrementes, a
dialética diz que de onde não se espera nada é que surge; ou, como diz o Tao:
“o que parece não é, e o que é não parece”. Ou como dizia Baden Powell: “o
homem que diz ‘dou’, não dá”.
Tomara que sim, que
eles possam fazer o que minha geração mentirosa não foi capaz, por excesso de
falatório.
Vitória,
quarta-feira, 18 de junho de 2003.
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