Desejo
e a Vontade, Limite do Fazer
Já vimos que desejo é de Deus, é instantâneo,
imediato, realização plena e rápida, sem nada de intermediário, é a única
liberdade que há, A Lei, O Verbo realizador; a vontade ou querer ou arbítrio vivo
ou racional é mediata, é mediatizada pela necessidade, pela Natura, pela
velocidade e o espaçotempo.
Para o desejo de Deus não há qualquer limite,
quando deseja já é, não há tempo entre o desejar e o haver, há já, é o
É-da-coisa de Clarice Lispector, que dizia, “a palavra mais importante da
língua só tem uma letra, É”.
Do outro lado, o querer é essa confusão
constante dos desacertos da Natura, o fazer incessante e insubsistente,
desaparecente, para criar essa palavra, O QUE CONSTANTEMENTE DESAPARECE,
degenera, finda, esvanece, morre, caduca, chega ao fim, declina, enferruja,
torna-se obsoleto, decrépito, senil – o destino de todo objeto e toda vida é
esse aparecer, existir, envelhecer, caducar, desaparecer irremediavelmente.
Há esse contraste insabível (outra palavra
útil a criar, o que não se pode saber) entre a plenitude de Deus e a
implenitude do racional, incompletude humilhante no que há de ruim e desafiadora
no que há de bom, pois com pouco que tenha a Vida (arquea, fungos, plantas,
animais e primatas) e a psicologia elas persistem, continuam a luta até o
último instante, fora os fracos desistentes pelos quais não se pode ter apreço.
Mesmo lutando com tudo pouco, há que aplaudir
o esforço desses que batalham, que permanecem haja o que houver.
Que graça maior pode haver para Deus que
olhar os pequeninos em sua absurda e valente disputa com os fracos recursos
disponíveis?
Vitória, sábado, 25 de fevereiro de 2017.
GAVA.
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