terça-feira, 7 de fevereiro de 2017


Programa de Milhoramento do Café

 

                            Indo de Vitória a Pequiá, divisa com Minas Gerais, onde fica o posto fiscal Zito Pinel, município de Iúna, a condução que nos leva passa em Venda Nova dos Imigrantes, ou só Venda Nova, ES, onde de certa rádio da região ouvi o que seria um agrônomo dando bons conselhos aos agricultores locais.

                            Papo vai, papo vem, café duro para lá, café mole para cá, ele falou dos bons pós de café de lá, cujos preços já atingiram mil e setecentos reais por saca, quando o natural é apenas cento e cinqüenta. Mercê de tratamentos rigorosos os bons preços vêm sendo conseguidos.

                            Aí ele ingressou no chamado “milhoramento do café”.

                            Não é melhoramento, não, é “milhoramento”, pois se trata da introdução de milho. Eu já sabia que colocam de tudo (folhas, galhos da planta, terra, insetos, milho, o escambau), faz tempo, no café do povo. Meu avô materno, Benevenuto Perim, produzia conilon em Burarama, distrito de Cachoeiro do Itapemirim, que vendia, comprando para a família o arábica, de melhor sabor (ou vice-versa, não sei, só entendo de tomar café). Como dizem os espertinhos, “quem parte e reparte e não fica com a melhor parte, ou é bobo ou não entende da arte”. Os das elites são mais apurados e mais caros. Agora vem com selo da associação lá deles, é toda uma geo-história fantástica.

                            Acontece que, depois de ter ouvido falar do “programa de milhoramento do café”, passei a prestar atenção nas dezenas e dezenas de carretas de milho que passam no PF, supostamente trazendo-o para servir como ração a galinhas e a porcos da região serrana. Seria o caso de investigar se há tantas granjas e pocilgas, ou se é meramente o caso de enriquecimento mais que ilícito, desavergonhado aos extremos, dos adeptos do PMC.

                            Ai, Deus! Como são as coisas no Brasil.

                            Vitória, terça-feira, 18 de março de 2003.

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