quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017


Pensimaginação Mestiça

 

                            No Brasil estão representadas as quatro raças, os negros-africanos (puros 6 %), os brancos-europeus (nos quais se declaram mestiços, 50 %), os amarelos-asiáticos (1,5 milhão de descendentes de japoneses) e os vermelhos-americanos (300 mil índios) em 175 milhões de brasileiros, sendo os restantes 44 % de mestiços.

                            É claro que isso coloca dentro do Brasil a América que já estava, a África que foi forçada a vir, a Europa que veio por vontade própria e a Ásia que veio de moto próprio, tangida pela suposta superpopulação, em conjunto isso se tornando uma oportunidade, como já disse tantas vezes, depois da CRISE DE FUSÃO, digamos assim.

                            Os obstáculos a ultrapassar antes que as fusões se dêem são numerosíssimos. Elas devem ser:

·        De índios e brancos

·        De índios e negros

·        De índios e amarelos

·        De negros e brancos

·        De negros e amarelos

·        De brancos e amarelos

Tudo isso pressupõe tolerância mútua, APRENDIZADO DO OUTRO (aprendizado Psicológico: aprendizado das figuras ou psicanálises, aprendizado dos objetivos ou psico-sínteses, aprendizado das produções ou economias, aprendizado das organizações ou sociologias, aprendizado dos espaçotempos ou geo-histórias), respeito e auto-respeito, aceitação da dignidade própria de ser, de ter e de estar dos outros modos de ver e proceder, como portugueses e espanhóis fizeram, os primeiros mais que os últimos, quando das invasões árabes, resultando em mecanismos de fusão que operaram por sete séculos ou mais, pelos quais Portugal e Espanha passaram desde a invasão muçulmana a partir de 711, quando Roderigo, o último rei visigodo, é derrotado pelos mouros. A Espanha só foi libertada em 1492 (1492 – 711 = 781 anos depois), coincidindo com a descoberta da América por Colombo. Portugal libertou-se antes, com a fundação no antigo Condado Portucalense: a tomada de Coimbra por Fernando de Castela se deu em 1064; seu filho Afonso VI fez de Henrique de Borgonha conde de Coimbra; o filho de Henrique intitula-se rei em 1139 e conquista Lisboa com o auxílio de cruzados em 1147, nos informa o Almanaque Abril 2002, dando-se a expulsão dos mouros em 1249 (1249 – 711 = 538), com cinco séculos de processamento da fusão entre árabes e europeus, vindo dar no povo português. Em 1385 sobe ao trono João I, inaugurando com a dinastia de Avis o futuro solo português.

Embora com menos tempo (quase oito séculos na Espanha, comparados com pouco mais de cinco em Portugal – 781 – 538 = 243 anos de diferença de domínios), Portugal avançou mais composição.

Ainda que não tenha se dado essa união com os árabes nos outros países, antes deles chegarem aconteceram outras sínteses, dos bárbaros com os romanos (Roma já era resultado de várias convergências por guerra e conquista dos inúmeros povos itálicos) e de várias tribos bárbaras entre si por toda a Europa, inclusive Portugal e Espanha. E, antes ainda dos que chegavam das estepes, com os autóctones. Mais primitivamente (imagino, embora os cientistas não afirmem) dos neanderthais com os sapiens recém surgidos.

E assim por diante, toda a geo-história humana é a de sucessivas fusões, sempre e por toda parte. Agora está se processando mais uma no Brasil. Como eu já disse, o ser humano é resistência e futuro, no final de tudo resistência, e no caso FUSÃO DE RESISTÊNCIAS, dando ao novo ser mestiço as resistências acumuladas por cada subgrupo em seu trânsito.

FUSÃO DE PENSAMENTOS e FUSÃO DE IMAGINAÇÕES, tanto do raciocínio quanto do sentimento de quatro raças diferentes, com tudo o que isso virá a significar em termos de uma qualidade superior. Está certo que os mestiços brasileiros ainda não se têm em grande conta, porque se vêem como diminuição de cada subgrupo, de tanto lhes incutirem isso, o que está totalmente errado. Fusões de formas e fusões de estruturas, de exteriores e interiores, de imagens e de conceitos.

Se tivermos quatro raças (A, B, C e D), teremos junções AB, AC, AD, BC, BD e CD, seis, mais os inversos, BA, CA, DA, CB, DB e DC, pois há dominância do primeiro, como no caso em que há 15/16 avos de genética negra e 1/16 avos de branca, ou qualquer composição. Inúmeras oportunidades de observar o universo surgirão, numa variedade DE OPÇÕES DE OBJETOS E DE SUBJETIVIDADES, de coisas e de modos de ver. Uma riqueza muito maior, muito mais significativa, um leque incomparavelmente mais amplo de tons das cores. Em vez de quatro, até centenas de modos de olhar, investigando muito mais, em vasto tanque de oportunidades.

                            Vê? Onde parecia haver problema há agora solução.

                            É questão de mudar o eixo da visão.

                            Vitória, sexta-feira, 04 de abril de 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário