quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017


Os Critérios de Nana Caymmi

 

                            Uma auxiliar fazendária de 25 anos, K.C., disse que detestava Nana Caymmi por esta ter dito, ao ser perguntada o que pensava sobre a apreciação dos fãs, que não dava bola, o único critério a que atentava era o seu mesmo. Não é por ela ter 25 anos, há um garoto na Veja desta semana que tem apenas 13 e já está graduado, daqui a pouco indo ao mestrado. A sabedoria não depende muito da idade, exceto pelo fato evidente de que com poucas informações não é possível raciocinar muito. Mas, vinda a sabedoria da inteligência, a justeza das opiniões pode se manifestar a qualquer época da vida, ou tardiamente, ou nunca.

                            Vejamos que a Nana Caymmi apenas externou sabedoria, porque não é possível seguir as opiniões alheias senão servilmente. Quem obedeceria a qualquer custo aos critérios alheios? Se os nossos padrões não são bons para nós, em primeiro lugar, como o seriam para os demais? Se não tenho rigor ao fazer minhas coisas, se dentro de mim não há censura à frouxidão, como poderei ser aprovado externamente? Pelo contrário, se tenho extremado cuidado com tudo, se sou positivamente atencioso, se revisto minhas atitudes das mais tensas expectativas de perfeição, posso esperar que olhando de fora as pessoas tenham um pouco que seja de consideração.

                            Essa moça, necessitando de aprovação para tudo, talvez esteja na situação de rebaixar seus critérios para obter atenção alheia, ao passo que a Nana, uma profissional gabaritada com irmãos também músicos, filha do grande Dorival Caymmi, vivendo num ambiente familiar de intensa exigência cultural, não poderia senão proceder assim, exigindo o máximo de si e obedecendo os seus critérios de perfectibilidade. Casada que foi com Gilberto Gil, vivendo num ambiente musical da mais alta categoria, 30 ou mais anos de exigências profissionais de gravadoras, como essa mulher poderia ser menos que extraordinária?

                            E vai lá uma moça e sem mais nem menos a rebaixa assim.

                            Não é de doer?

                            Vitória, domingo, 27 de abril de 2003.

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