O Veneno de Chicago
Fomos, meu filho Gabriel
e eu, ver Chicago, o filme que finalmente ganhou cinco ou seis estatuetas do
Oscar, inclusive de melhor filme, que é noir, é negro, é escuro, é
tangivelmente carregado na falta proposital de cores, exceto na sobreafirmação
do feminino.
Por sinal,
coincidentemente, a figura de Catarina Zeta-Jones foi tirada da capa de uma
revista em quadrinhos, American Flagg!
(Bandeira Americana), Reuben e os
Piratas, número 1, “estes são os homens da lei”, de Howard Chaykin, 1985
nos EUA, dezembro de 1990 no Brasil. “Cagada e cuspida”, como diz o povo, ou
seja, cravada e esculpida. Cabelo, roupa íntima, o corpo mais cheio, tipo
gostosona, tudo mesmo.
Em si mesmo o filme
é um lamento do Cinema americano, um pedido de socorro. Pois é sabido que os
cineastas, os atores e as atrizes não morrem de amores pelos advogados de lá
(“que são doze advogados no fundo do mar? ”, “um bom começo”), mas no filme
diz-se abertamente que a Lei nos EUA não vale mais nada, basta um grande circo
nos tribunais para tirar de lá impunemente qualquer um, desde que se possa
pagar. Ora, isso é o fim do Judiciário americano, que é o último bastião do
Estado (veja o artigo deste Livro 27, Os
Três Poderes), desde quando eles zombam do Legislativo e do Judiciário faz
tempo. Claro, o povo demorará a acordar, sem falar que as elites estão desde faz
muito compromissadas com esse colapso institucional – foram elas que o
desejaram, planejaram e executaram.
Então os mágicos e
os artistas, sempre mais sensíveis, estão se lamentando primeiro, porque vêem
mais longe, que vem vindo desde o futuro a falência total, a demência absoluta.
Então, eles denunciam, através de um filme que, à primeira vista, tinha tudo
para ser desequilibrando, até a entrada de Richard Gere, que é a grande tônica
(ele não é especialmente brilhante ali, mas seu personagem diz tudo que é
relevante – e, afinal de contas, pouco talento não basta para compor o
personagem) da fita.
O resultado é
chocante anúncio DE DENTRO: os EUA entraram na fase final da bancarrota
cultural, na mesma semana, conforme Gabriel me mostrou, em que a Veja apresenta
os Estados Unidos como “mastodôntica” cultura ou nação. Deveriam ter assistido
a película.
Vitória,
terça-feira, 25 de março de 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário