quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017


O Rei Está Nu

 

                            Isso é de uma fábula: espertalhões vendem ao rei uma roupa completa, com capa e tudo, mas invisível; o rei não apenas paga como a coloca e sai pelas ruas, todos aplaudindo supersatisfeitos, para não contrariar sua majestade, até que uma criança anuncia a verdade.

                            Tal fábula nos ensina várias coisas:

1.       O ponto de vista cínico-utilitário (dos políticos): não se deve deixar crianças freqüentarem as coisas sérias;

2.      O ponto de vista dos compromissos políticadministrativos: só há uma opinião no governempresa, o da direção superior – todo o resto é ilusão de uma oposição a que no máximo e por educação é servido cafezinho frio;

3.      O ponto de vista da polícia do Estado: crianças são perigosas e devem ser duplamente vigiadas e em caso de deslize seus pais e mães devem ser advertidos severamente;

4.     O ponto de vista dos geo-historiadores: alguém já soube de um desfile em que o rei estivesse nu? GH noticiam (cuidadosamente) os fatos DEPOIS que eles foram referendados;

5.      O ponto de vista da imprensa ajuizada: o rei está botando bastante propagandas no jornal?;

6.     O ponto de vista dos estudantes: ai! Ui!;

7.      O ponto de vista dos embaixadores estrangeiros: o rei é nosso aliado?;

8.     O ponto de vista da rainha: se eles soubessem o que tenho de agüentar para viver àtoa;

9.     O ponto de vista dos príncipes: vamos usar isso para cobrar as mesadas atrasadas;

10.   O ponto de vista dos empresários: se a moda pegar nós vamos lucrar pra caramba!

Poderíamos discorrer um tempão. A fábula abordou apenas um ponto de vista, que a muitos pode soar como um desses arroubos importunos da juventude. Ou, quem sabe, o ocultamento corriqueiro da dolorosa verdade, que deixa as pessoas muito constrangidas, pois afinal de contas a vida adulta é cheia de compromissos.

Vitória, quinta-feira, 27 de março de 2003.

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