O Rei Está Nu
Isso é de uma fábula:
espertalhões vendem ao rei uma roupa completa, com capa e tudo, mas invisível;
o rei não apenas paga como a coloca e sai pelas ruas, todos aplaudindo
supersatisfeitos, para não contrariar sua majestade, até que uma criança
anuncia a verdade.
Tal fábula nos
ensina várias coisas:
1. O
ponto de vista cínico-utilitário (dos políticos): não se deve deixar crianças
freqüentarem as coisas sérias;
2. O
ponto de vista dos compromissos políticadministrativos: só há uma opinião no governempresa,
o da direção superior – todo o resto é ilusão de uma oposição a que no máximo e
por educação é servido cafezinho frio;
3. O
ponto de vista da polícia do Estado: crianças são perigosas e devem ser duplamente vigiadas e
em caso de deslize seus pais e mães devem ser advertidos severamente;
4. O
ponto de vista dos geo-historiadores: alguém já soube de um desfile em que o rei estivesse nu?
GH noticiam (cuidadosamente) os fatos DEPOIS que eles foram referendados;
5. O
ponto de vista da imprensa ajuizada: o rei está botando bastante propagandas no jornal?;
6. O
ponto de vista dos estudantes:
ai! Ui!;
7. O
ponto de vista dos embaixadores estrangeiros: o rei é nosso aliado?;
8. O
ponto de vista da rainha:
se eles soubessem o que tenho de agüentar para viver àtoa;
9. O
ponto de vista dos príncipes:
vamos usar isso para cobrar as mesadas atrasadas;
10. O
ponto de vista dos empresários:
se a moda pegar nós vamos lucrar pra caramba!
Poderíamos discorrer um tempão. A
fábula abordou apenas um ponto de vista, que a muitos pode soar como um desses
arroubos importunos da juventude. Ou, quem sabe, o ocultamento corriqueiro da
dolorosa verdade, que deixa as pessoas muito constrangidas, pois afinal de
contas a vida adulta é cheia de compromissos.
Vitória, quinta-feira, 27 de março de
2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário