O Que Podemos Deduzir
Gabriel voltou do
Darwin com a estória de que os professores, olhando o retrato clássico do
diabo, com chifres, com garfo e pele vermelha, puderam deduzir o seguinte:
1. Se o diabo tem chifres é porque no
inferno tem mulher;
2. Como ele tem garfo, e este é grande,
podemos concluir que lá há comida, e muita;
3. Por ser vermelhão podemos dizer que há
praia, e boa, pois ele ficou vermelhaço.
Ao que acrescentei:
4. Como ele tem rabo e este nunca está
preso deve ser o patrono dos políticos ladrões.
Veja só o que é o poder da lógica.
Evidentemente nada disso se dá, pois,
dedução é partir de premissas e elas devem ser investigadas. Deveríamos provar:
a) que existe pelo menos um diabo, b) que o retrato que dele se faz é correto
(pois se diz que o diabo não é tão feio quanto se pinta). Mesmo que fosse
correto, restaria ainda: Д) o “garfo” do diabo não é de comer, é de espetar as
almas; В) a pele do diabo não está “queimada”, é de natureza; α) os chifres dos
cornos são metafóricos, enquanto os do diabo seriam, pelas lendas, reais; β) o
“rabo” dos políticos se refere aos erros cometidos e o diabo, sendo Lúcifer, o
Primeiro dos Anjos, dificilmente cometeria um erro (exceto, evidentemente, diante
do poder infinitamente maior de Deus, pelas lendas).
Veja então que para haver o salto
lógico da contração dedutiva não basta as premissas estarem corretas, PORQUE
elas podem ser consistentes na ficção; é fundamental que sejam ADEQUADAS, isto
é, pareadas primariamente com o real.
Não devemos apenas cuidar da lógica,
isto é, dos méritos da dedução, da plausibilidade dos passos ou processos sintáticos,
da consistência da racionalidade, a qualidade implícita do que é racional, mas
da conexão interna das premissas, da sua adeqüabilidade ao real, a qualidade do
que é adequável. Isto remete à IMPRESSÃO COERENTE, ou seja, se desde o início
soubemos ver no real a sua realidade, assim seja, sua distância do erro e sua
COLAGEM AO VERDADEIRO.
Vitória, terça-feira, 11 de março de
2003.
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