domingo, 5 de fevereiro de 2017


O Que Podemos Deduzir

 

                            Gabriel voltou do Darwin com a estória de que os professores, olhando o retrato clássico do diabo, com chifres, com garfo e pele vermelha, puderam deduzir o seguinte:

1.       Se o diabo tem chifres é porque no inferno tem mulher;

2.      Como ele tem garfo, e este é grande, podemos concluir que lá há comida, e muita;

3.      Por ser vermelhão podemos dizer que há praia, e boa, pois ele ficou vermelhaço.

Ao que acrescentei:

4.     Como ele tem rabo e este nunca está preso deve ser o patrono dos políticos ladrões.

Veja só o que é o poder da lógica.

Evidentemente nada disso se dá, pois, dedução é partir de premissas e elas devem ser investigadas. Deveríamos provar: a) que existe pelo menos um diabo, b) que o retrato que dele se faz é correto (pois se diz que o diabo não é tão feio quanto se pinta). Mesmo que fosse correto, restaria ainda: Д) o “garfo” do diabo não é de comer, é de espetar as almas; В) a pele do diabo não está “queimada”, é de natureza; α) os chifres dos cornos são metafóricos, enquanto os do diabo seriam, pelas lendas, reais; β) o “rabo” dos políticos se refere aos erros cometidos e o diabo, sendo Lúcifer, o Primeiro dos Anjos, dificilmente cometeria um erro (exceto, evidentemente, diante do poder infinitamente maior de Deus, pelas lendas).

Veja então que para haver o salto lógico da contração dedutiva não basta as premissas estarem corretas, PORQUE elas podem ser consistentes na ficção; é fundamental que sejam ADEQUADAS, isto é, pareadas primariamente com o real.

Não devemos apenas cuidar da lógica, isto é, dos méritos da dedução, da plausibilidade dos passos ou processos sintáticos, da consistência da racionalidade, a qualidade implícita do que é racional, mas da conexão interna das premissas, da sua adeqüabilidade ao real, a qualidade do que é adequável. Isto remete à IMPRESSÃO COERENTE, ou seja, se desde o início soubemos ver no real a sua realidade, assim seja, sua distância do erro e sua COLAGEM AO VERDADEIRO.

Vitória, terça-feira, 11 de março de 2003.

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