O Que a Gente Acha
Bonito
Num dos livrinhos
que escrevi no Sindifiscal, a
Re-Invenção do Tributo, agosto de 1992, coloquei na capa uma citação de
Clarice Lispector: “(...) tudo o que a gente acha bonito é às vezes apenas
porque já está concluído. Mas o que é hoje feio será daqui a séculos visto como
beleza, porque terá completado um de seus movimentos”.
Isso nos diz muito.
Primeiro, que a
Clarice entendia a dialética e o TAO.
Segundo, que se hoje
achamos a Europa bonita é porque ela está concluída. Talvez não totalmente, mas
estará em algum tempo, e começará a fenecer, a morrer, como uma fruta no auge
de seu amadurecimento, no pico vindo a estagnação nele ou a descida inelutável.
E que a África, se é hoje considerada feia, daqui a séculos será vista como
beleza, como já aconteceu com a Europa, a Ásia, a América do Norte, o Egito, o
Iraque (Suméria, Caldéia, Babilônia), a Pérsia, a China, o Japão.
Terceiro, tudo é
movimento que leva do sim ao não e vice-versa - é ciclo, é comparação circular.
O feio será bonito, depois será feio de novo e assim sucessivamente.
Quarto, as coisas
não são belas em si mesmas, dependem de julgamento de valor do julgador, do
observador, e assim é sábio o povo, que diz: “a beleza está nos olhos de quem
vê”. Como os olhos são a parte externa do sistema externinterno da visão, a
beleza é tráfego externinterno no sistema da visão. Fora estão as coisas
observadas, dentro os padrões culturais de avaliação do espectador, do
interpretador. Mudados os padrões muda a apreciação. Todas as 22 (até agora
identificadas) tecnartes mudarão quando a socioeconomia mudar. O que valia no
passado não valerá no futuro.
Quinto, se o que é
feio hoje vai ser um dia visto como bonito, não é de fato feio, só é perante o
julgamento dos que agora se julgam bonitos e vão ser julgados feios. Assim, a
extrema valorização da beleza atual é por um lado índice de dependência e de
fraqueza e por outra cruel exploração psicológica.
E assim por diante.
Viu quanta
profundidade existe nas afirmações dos grandes?
Vitória,
terça-feira, 11 de março de 2003.
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