domingo, 5 de fevereiro de 2017


O Magnífico Reitor Euclides

 

                            No livro de Singh, já citado neste Livro 25, p. 65, ele diz:

                            “Euclides dedicou boa parte de sua vida ao trabalho de escrever os Elementos, o livro-texto mais bem-sucedido de toda a história. Até este século (deve ser o início do século XX, JAG) tratava-se do segundo maior best-seller mundial, depois da Bíblia. Os Elementos consistem em treze livros, alguns dedicados aos trabalhos do próprio Euclides, e os demais sendo uma compilação do conhecimento matemático de sua época, incluindo dois volumes dedicados inteiramente aos trabalhos da Irmandade Pitagórica”, negrito meu.

                            Pitágoras nasceu por volta de 580 e morreu em torno de 500 a.C. Euclides viveu por volta de 300 a.C. A fundação de Alexandria é de 332 a.C., seguindo-se a criação da Universidade por Ptolomeu I Soter (significando “salvador”). Como a morte de Alexandre se deu em 323 a.C., evidentemente as satrapias só foram divididas depois disso. Ptolomeu se designou rei do Egito em 304 a.C., de forma que a data de 300 a.C. nos diz que Euclides chegou logo depois.

                            Singh ainda nos informa que o primeiro diretor do departamento de matemática da Universidade de Alexandria (a primeira do mundo – de modo que as universidades já podem comemorar seu 23º milênio, o quê, creio, devem fazer logo, em festa mundial) foi justamente o nosso Euclides. A Barsa eletrônica nos informa que ele reuniu o conhecimento de seus predecessores gregos, Hipócrates (o que era médico nasceu em Cós por volta de 460 e morreu em torno de 377 a.C.; este Hipócrates é outro, matemático) e Eudóxio, além dos trabalhos dos egípcios, que já estavam na matemática desde as origens, lá por 4500 a.C., segundo alguns autores, de forma mais definida desde a construção das pirâmides de Quéops, Quéfren e Miquerinos, lá por 2500 a.C.

                            Em primeiro lugar, dos 13 livros dois são da Irmandade Pitagórica, diretamente, portando sobram 85 % para Euclides. Quando é dele, realmente? Vimos que parte era de Hipócrates e de Eudóxio, que o precederam. Parte era egípcia, parte era grega e provavelmente parte vinha de outros povos, hindus e persas, entre outros.

                            Confortavelmente no centro da maior biblioteca do mundo antigo, com 600 mil volumes vindos de todas as partes do mundo, na posição de reitor da universidade, Euclides fez um baita trabalho de colagem. Isso não tira o mérito dele, de modo algum. Fez um livro útil, verdadeiro, não-cansativo, enxuto, admirável, compacto e com outras qualidades. Tanto assim que não foi mudado até o século XIX. A primeira tradução do grego data somente de 1505, imagine só! Até então esteve em mãos dos árabes (que fizeram relativamente muito pouco, desde 632 até quase 900 anos depois, diga-se de passagem).

                            Mais adiante, p. 69, Singh arremata: Com um conhecimento tão completo, os Elementos foram a base do ensino da geometria nas escolas e universidades durante os dois mil anos seguintes”. Pense em quantos livros estarão sendo lidos daqui a dois milênios e você perceberá a proeza.

                            É claro, o magnífico reitor Euclides estava no centro de uma instituição, todo mundo trabalhando para ele, como graduandos trabalham para os mestres, mestrandos para os doutores, estes para os pós-doutorados e pesquisadores das cátedras. Sempre foi assim.

                            Mas você não vê por aí tantos trabalhos de compilação tão elegantes quanto os Elementos. São pouquíssimos. E quantos durarão dois milênios? Por aí se vê a grandeza de Euclides. No entanto, quantas estátuas há dele, a quantos museus atribuímos seu nome, quanto agradecimento temos demonstrado a ele?

                            Vitória, quarta-feira, 12 de março de 2003.

Nenhum comentário:

Postar um comentário