O Magnífico Reitor
Euclides
No livro de Singh,
já citado neste Livro 25, p. 65, ele diz:
“Euclides dedicou
boa parte de sua vida ao trabalho de escrever os Elementos, o livro-texto
mais bem-sucedido de toda a história. Até este século (deve ser o início do
século XX, JAG) tratava-se do segundo maior best-seller mundial, depois da
Bíblia. Os Elementos consistem em
treze livros, alguns dedicados aos trabalhos do próprio Euclides, e os demais
sendo uma compilação do conhecimento matemático de sua época, incluindo dois
volumes dedicados inteiramente aos trabalhos da Irmandade Pitagórica”, negrito
meu.
Pitágoras nasceu por
volta de 580 e morreu em torno de 500 a.C. Euclides viveu por volta de 300 a.C.
A fundação de Alexandria é de 332 a.C., seguindo-se a criação da Universidade
por Ptolomeu I Soter (significando “salvador”). Como a morte de Alexandre se
deu em 323 a.C., evidentemente as satrapias só foram divididas depois disso.
Ptolomeu se designou rei do Egito em 304 a.C., de forma que a data de 300 a.C. nos
diz que Euclides chegou logo depois.
Singh ainda nos
informa que o primeiro diretor do departamento de matemática da Universidade de
Alexandria (a primeira do mundo – de modo que as universidades já podem
comemorar seu 23º milênio, o quê, creio, devem fazer logo, em festa mundial)
foi justamente o nosso Euclides. A Barsa eletrônica nos informa que ele reuniu
o conhecimento de seus predecessores gregos, Hipócrates (o que era médico
nasceu em Cós por volta de 460 e morreu em torno de 377 a.C.; este Hipócrates é
outro, matemático) e Eudóxio, além dos trabalhos dos egípcios, que já estavam
na matemática desde as origens, lá por 4500 a.C., segundo alguns autores, de
forma mais definida desde a construção das pirâmides de Quéops, Quéfren e
Miquerinos, lá por 2500 a.C.
Em primeiro lugar,
dos 13 livros dois são da Irmandade Pitagórica, diretamente, portando sobram 85
% para Euclides. Quando é dele, realmente? Vimos que parte era de Hipócrates e
de Eudóxio, que o precederam. Parte era egípcia, parte era grega e
provavelmente parte vinha de outros povos, hindus e persas, entre outros.
Confortavelmente no
centro da maior biblioteca do mundo antigo, com 600 mil volumes vindos de todas
as partes do mundo, na posição de reitor da universidade, Euclides fez um baita
trabalho de colagem. Isso não tira o mérito dele, de modo algum. Fez um livro
útil, verdadeiro, não-cansativo, enxuto, admirável, compacto e com outras
qualidades. Tanto assim que não foi mudado até o século XIX. A primeira
tradução do grego data somente de 1505, imagine só! Até então esteve em mãos
dos árabes (que fizeram relativamente muito pouco, desde 632 até quase 900 anos
depois, diga-se de passagem).
Mais adiante, p. 69,
Singh arremata: Com um conhecimento tão completo, os Elementos foram a base do ensino da geometria nas escolas e
universidades durante os dois mil anos seguintes”. Pense em quantos livros
estarão sendo lidos daqui a dois milênios e você perceberá a proeza.
É claro, o magnífico
reitor Euclides estava no centro de uma instituição, todo mundo trabalhando
para ele, como graduandos trabalham para os mestres, mestrandos para os
doutores, estes para os pós-doutorados e pesquisadores das cátedras. Sempre foi
assim.
Mas você não vê por aí
tantos trabalhos de compilação tão elegantes quanto os Elementos. São
pouquíssimos. E quantos durarão dois milênios? Por aí se vê a grandeza de
Euclides. No entanto, quantas estátuas há dele, a quantos museus atribuímos seu
nome, quanto agradecimento temos demonstrado a ele?
Vitória,
quarta-feira, 12 de março de 2003.
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