sábado, 4 de fevereiro de 2017


O Que é Instrumento?

 

                            David Deutsch diz em seu livro A Essência da Realidade (Uma revolucionária visão da realidade, entrelaçada pelas teorias da evolução, do conhecimento, da física quântica e da ciência da computação), São Paulo, Makron, 2000, p. 3: “Essa visão é chamada instrumentalismo (porque diz que uma teoria não é nada mais do que um ‘instrumento’ para fazer previsões). Para os instrumentalistas, o conceito de que a ciência pode nos capacitar a entender a realidade subjacente que explica as nossas observações é falácia e fantasia. Eles não vêem como qualquer coisa que uma teoria científica possa dizer além de prever os resultados dos experimentos possa ser mais do que palavras vazias. Consideram as explicações, em particular, como meras escoras psicológicas: um tipo de ficção que incorporamos a teorias para torná-las mais facilmente lembradas e divertidas”, itálico no original, colorido meu.

                            Vejamos: dado que o ser humano é alma ou razão ou Psicologia (figuras ou psicanálises, objetivos ou psico-sínteses, produções ou economias, organizações ou sociologia,s espaçotempos ou geo-histórias), tudo que faz e produz é dimensionalmente DE SUA PSICOLOGIA, ou seja, confrontantes de sua métrica ou medida, em todos os patamares da pontescada tecnocientífica, especialmente científica: dimensões físicas/químicas, biológicas/p.2, psicológicas/p.3, informacionais/p.4, cosmológicas/p.5, dialógicas/p.6. Os objetos e os processos que construímos, os processobjetos, as máquinas e os programas, os programáquinas, tudo remete às pessoambientes que somos (PESSOAS: indivíduos, famílias, grupos e empresas; AMBIENTES: municípios/cidades, estados, nações e mundo), à NOSSA HUMANIZAÇÃO DAS P/A. O computador que tenho à minha frente é relativizado às minhas dimensões todas de pontescada, porque, sendo humano, e tendo sido ele preparado para as dimensões humanas, meu encontro com ele é em relativo conforto. Não foi preparado para o jeito de ser de um centaurino ou de um ganimediano ou de um marciano. São as CNTP (condições naturais de temperatura e pressão) da Terra, de seu poço gravitacional, de seus tropos magnéticos, elétricos, de temperatura, de tudo – todos os traços de definição da Terra.

                            Ora, um instrumento INTERFACIA entre o SER (memória, inteligência e controle/comunicação) e o TER (matéria, energia, informação), COMPARATIVAMENTE, isto é, co-mensuralmente. O SER mede o TER e o TER mensura o SER. Sobre ser CONTRAFACE PSICOLÓGICA do ser que o usa o instrumento, deve ESTAR POSTO para o ter em tela, aquele ter em especial. Quando se vá mensurar Júpiter não podemos pretender usar os mesmos instrumentos que usamos na Terra, graduados do mesmo modo, dado que os índices de pontescada lá são outros. Os instrumentos deveriam ser re-graduados. R (Oi), regraduação para o objeto.

                            Ademais, como sabemos, os sentidos são externinternos, o olho externo, passivo, correspondendo ao olho interno, interpretador ativo. Quão preciso é um e quão bom é o outro? Diferentes pessoas olhando através do mesmo telescópio vêem coisas diferentes, como ficou provado na questão dos pseudocanais de Marte. O instrumento, enquanto interfaciador, é adequado ao agente que o usa? Uma pessoa das planícies teria dificuldades, em razão de o ar ser rarefeito à respiração, de olhar o céu do alto das montanhas dos Andes, ao passo que um nativo, não, adaptado que está.

                            O instrumento, por si só, já é prática e teoria, é prateoria em onda de adaptação entre emissor e receptor, PELO MEIO ou transferidor. Duplo emissor, duplo receptor.

                            Os instrumentos são tanto internos quanto externos. Se tenho uma régua, que é um objeto visualizador padronizado, a imagem é externa, depende da precisão do olho; a interpretação é interna, depende dos programas de comparação, da fidelidade e permanência da memória, da inteligência decifradora, de controle no uso, de uma série de coisas. A medida não é fácil, quando pensamos nela. Ela se abre numa árvore de decisões de muitos níveis. Do mesmo modo, seja a Ciência um instrumento, ela é tanto externa quanto interna. É externa quando depende dos objetos e das máquinas, é interna quando precisa dos processos e dos programas. Ela é também externinterna. Não pode ser falaciosa mais do que qualquer ser o seria; se as ciências fossem totalmente falaciosas os seres que a prateorizam também o seriam e não poderiam estar fazendo nenhum juízo de valor sobre a Ciência, especialmente esse dos instrumentalistas. Por outro lado, se fosse inteiramente judiciosa, se fosse perfeitamente equilibrada e sem erro, sempre acertaria, e vemos que não é assim. PORTANTO, ela é e não é AO MESMO TEMPO falaciosa. E isso vem de que os seres que a fazem não são instrumentos perfeitamente calibrados, nem tem razão perfeita até o último átimo. Somos não-perfeitos do nosso modo humano. Daí que a Ciência que fazemos seja também não-perfeita. Os instrumentalistas estão ao mesmo tempo certos e errados.

                            De fato, a Ciência é um instrumento, pois que externinterna. Pelo lado de fora é um instrumento. Pelo lado de dentro é um capacitador, um adequador montante, ela permite os saltos indutivos do menor para o maior, do inferior para o superior, como todo o Conhecimento.

                            Vitória, sábado, 22 de fevereiro de 2003.

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