quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017


O Nascimento do Ocidente

 

                            No mesmo livro V de Reale, p. 14, está escrito:

                            “As características fundamentais do movimento alexandrino foram: a) fusão do misticismo típico do Oriente com a filosofia grega; b) disponibilidade notável às solicitações espirituais provenientes dos ambientes mais heterogêneos; c) notável impulso dado ao desenvolvimento autônomo das ciências particulares”, colorido e negrito meus.

                            Como vimos, a Biblioteca de Alexandria durou 900 anos (de 290 a.C. até 640 d.C., quando foi definitivamente destruída), tendo influenciado extensamente todo o mundo antigo. Era onde se pensava mais a fundo, uma verdadeira universidade na Antiguidade, a primeira e única até então. Passou o conhecimento aos árabes e à Europa, quando deu, para onde ele retornou depois de 1453. Os árabes nada fizeram de novo nesse setor, até porque era proibido pensar. Os poucos que se aventuraram repetiram os gregos, de onde deve ter partido quase tudo, inclusive o ábaco que depois foi para o Oriente, Japão particularmente.

                            Mais importante de tudo foi Filo de Alexandria ou Fílon, o Judeu (c. 13 a.C a 54 d.C.), que promoveu (como veremos em artigo próprio) a reunião do sentimento judeu com o pensamento grego, antecipando a produção do cristianismo, sendo contemporâneo de Cristo.

                            Constantinopla foi o roteador, a rótula em torno de que todo o pensamento pré-cristão girava.

                            Se ali as emoções judaicas longamente destiladas se uniram à razão grega, foi ali que o Ocidente nasceu, cresceu e se implantou, e é a Alexandria que devemos uma grande parte disso que, pelas mãos de Jesus, e através da Igreja, se tornou a base de todos os nossos valores e da vitória esmagadora do Ocidente, por enquanto.

                            Então, Alexandria deveria ser uma espécie de ícone, tão ou mais venerado que a Grécia e Roma, porque as bases do pensamento ocidental foram assentadas lá, fazendo-me crer que deveria haver um Prêmio Alexandrino de Conhecimento (geral e particular), dado anualmente aos pesquisadores de todas as áreas (Magia/Arte, Teologia/Religião, filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) e suas frações. Não compreendo como Alexandria (e Constantinopla, entre outras importantes cidades, como Persépolis, Ctesifonte e tantas outras) foi esquecida (foram), durante tão largo tempo. É assombroso que não se cultive a memória dos homens e mulheres que fizeram aquelas cidades que foram, em todos os continentes, a base de tantas alegrias humanas.

                            Vitória, domingo, 27 de abril de 2003.

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