O Ensino Idiotizante
Conversávamos, o
colega MD e eu em Pequiá, e do tema surgiu isto: por ele dizer que o ensino de
Matemática é idiotizante adendei que isso só se dá no terceiro e no quarto
mundos PORQUE o objetivo do ensino daqui não é visar o futuro, onde estão os
problemas (e as soluções libertadoras), mas o passado, onde as soluções já
foram proporcionadas pelos países centrais, do primeiro e segundo mundos.
Quer dizer, aos
mundos da retaguarda não compete avançar.
Então os alunos são
CUIDADOSAMENTE conduzidos, de modo a poderem resolver os problemas que já foram
resolvidos antes, exatamente re-solver, solver de novo, de modo a nada PERIGOSO
como o pensar independente ser acrescido. Uma pátina, um verniz é passado por
sobre o corpomente, enrijecendo pontualmente o estudante tendente a rebeldia,
deixando de fora apenas as mãos, sinal da operação manual, mas não olhos (que
tenderiam a ver), a boca (que tenderia a falar), os ouvidos (que tenderiam a
ouvir), tudo que é potencialmente revolucionário.
Não, com
muito cuidado, sem sequer saberem o que estão fazendo, os professores
são instados um pouco por estímulo e um pouco por desestímulo a seguir as
linhas da acomodação, da ortodoxia, do fechamento mental, nunca permitindo que
os alunos “irresponsáveis”, que não respondem aos parâmetros ou paradigmas ou
programas pré-estabelecidos como aceitáveis, sigam suas tendências EM CLASSE
(fora da sala de aula já é caso de polícia). Eles mesmos e os alunos que sugam
das tetas da conformidade tratam de podar os rebeldes.
Não é que o ensino
seja ruim; devemos antes perguntar: “ruim para quem? ” E a resposta é que ele é
bom para os mestres estrangeiros dos bonecos daqui, é bom para os bonecos que
vivem calmamente com o senso de falta de dever, pacificado em suas barrigas gordas,
e é bom para os alunos quietos, acomodados com a perspectiva de seus ganhos
projetados. Não é bom para a causa da libertação socioeconômica, para o povo
subjugado, para a independência.
O ensino nos mundos
periféricos QUER AQUILO MESMO, ou seja, a repetição, a mesmice, a
não-independência, quer ser escravo contente. Produz os engenheiros competentes
naquilo em que é exigida competência e em lugar nenhum mais.
Então, a pergunta
deve ser recolocada: “idiotizante no quê? ”
A resposta é que, em
produzir os perfeitos títeres que reproduzem a riqueza e o pensamento
sancionados não é. Nisso ela é perfeita.
Vitória, domingo, 27
de abril de 2003.
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