quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017


O Ensino Idiotizante

 

                            Conversávamos, o colega MD e eu em Pequiá, e do tema surgiu isto: por ele dizer que o ensino de Matemática é idiotizante adendei que isso só se dá no terceiro e no quarto mundos PORQUE o objetivo do ensino daqui não é visar o futuro, onde estão os problemas (e as soluções libertadoras), mas o passado, onde as soluções já foram proporcionadas pelos países centrais, do primeiro e segundo mundos.

                            Quer dizer, aos mundos da retaguarda não compete avançar.

                            Então os alunos são CUIDADOSAMENTE conduzidos, de modo a poderem resolver os problemas que já foram resolvidos antes, exatamente re-solver, solver de novo, de modo a nada PERIGOSO como o pensar independente ser acrescido. Uma pátina, um verniz é passado por sobre o corpomente, enrijecendo pontualmente o estudante tendente a rebeldia, deixando de fora apenas as mãos, sinal da operação manual, mas não olhos (que tenderiam a ver), a boca (que tenderia a falar), os ouvidos (que tenderiam a ouvir), tudo que é potencialmente revolucionário.

                            Não, com muito cuidado, sem sequer saberem o que estão fazendo, os professores são instados um pouco por estímulo e um pouco por desestímulo a seguir as linhas da acomodação, da ortodoxia, do fechamento mental, nunca permitindo que os alunos “irresponsáveis”, que não respondem aos parâmetros ou paradigmas ou programas pré-estabelecidos como aceitáveis, sigam suas tendências EM CLASSE (fora da sala de aula já é caso de polícia). Eles mesmos e os alunos que sugam das tetas da conformidade tratam de podar os rebeldes.

                            Não é que o ensino seja ruim; devemos antes perguntar: “ruim para quem? ” E a resposta é que ele é bom para os mestres estrangeiros dos bonecos daqui, é bom para os bonecos que vivem calmamente com o senso de falta de dever, pacificado em suas barrigas gordas, e é bom para os alunos quietos, acomodados com a perspectiva de seus ganhos projetados. Não é bom para a causa da libertação socioeconômica, para o povo subjugado, para a independência.

                            O ensino nos mundos periféricos QUER AQUILO MESMO, ou seja, a repetição, a mesmice, a não-independência, quer ser escravo contente. Produz os engenheiros competentes naquilo em que é exigida competência e em lugar nenhum mais.

                            Então, a pergunta deve ser recolocada: “idiotizante no quê? ”

                            A resposta é que, em produzir os perfeitos títeres que reproduzem a riqueza e o pensamento sancionados não é. Nisso ela é perfeita.

                            Vitória, domingo, 27 de abril de 2003.

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