O Discurso Vadio
No mesmo livro de
Juremir Machado da Silva, p. 146 e ss, ele entrevistou Darcy Ribeiro, entre
agosto de 1989 e janeiro de 1991, antes de o antropólogo brasileiro famoso,
fundador e ex-reitor da UnB, Universidade de Brasília, ex-ministro, educador,
um dos poucos intelectuais que jamais respeitei, depois senador, falecer, faz
alguns anos.
Na página 151 podemos
ler:
“JMS - O senhor
acompanha o trabalho de antropólogos brasileiros em evidência: Roberto DaMatta,
Renato Ortiz, Gilberto Velho e outros?
“DR – Eles correspondem
ao que acabei de descrever. Integram a categoria da antropologia vadia. Ajudam o discurso europeu a habitar o Brasil”,
negrito meu.
De fato, o discurso de
quase todo antropólogo, e quase todo intelectual é um discurso vadio, à toa,
sem ocupação, dos folgados, dos ociosos que não têm PRESSA DE SALVAÇÃO de
ninguém, nem sequer de si mesmos. Estão a serviço de aclamar os estrangeiros,
especialmente os europeus, para ver se conseguem migalhas dos seus olhares,
quando eles estejam desocupados de outras tarefas mais importantes. É o
discurso da nova roupagem da escravidão, inventando e reinventando os motivos
para os povos novo-colonizados continuarem a crer nos novo-colonizadores,
reintroduzindo as imagens e os conceitos tidos como superiormente críveis e
adotáveis por nossas mentes supostas tacanhas e incapazes de perceber a
grandeza sem o trabalho vadio de tradução e adequação “às condições
brasileiras”. É o trabalho da reevangelização no pior sentido, o de capar os
porcos para a engorda socioeconômica pelos estrangeiros – pois tudo começa pela
submissão mental e, portanto, pela castração dos pensadores locais que poderiam
ousar desafiar o domínio alienígena.
Sem dúvida alguma Darcy
estava certo, ele que foi sempre um lutador podado e violentado, que foi
verdadeiramente um patriota profundo, um brasileiro da mais alta estirpe.
Nem chega a ser triste a
presença de tais antropólogos. É apenas mais um índice das necessidades de
alturas de ultrapassamento do dique de contenção mental que foi erguido em
volta de nós por essa vadiagem medonha e amedrontada, que têm medo dos outros e
até de suas próprias capacidades. Que nojo!
Vitória, sexta-feira, 11
de abril de 2003.
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