sábado, 11 de fevereiro de 2017


O Discurso Vadio

 

                        No mesmo livro de Juremir Machado da Silva, p. 146 e ss, ele entrevistou Darcy Ribeiro, entre agosto de 1989 e janeiro de 1991, antes de o antropólogo brasileiro famoso, fundador e ex-reitor da UnB, Universidade de Brasília, ex-ministro, educador, um dos poucos intelectuais que jamais respeitei, depois senador, falecer, faz alguns anos.

                        Na página 151 podemos ler:

                        “JMS - O senhor acompanha o trabalho de antropólogos brasileiros em evidência: Roberto DaMatta, Renato Ortiz, Gilberto Velho e outros?

                        “DR – Eles correspondem ao que acabei de descrever. Integram a categoria da antropologia vadia. Ajudam o discurso europeu a habitar o Brasil”, negrito meu.

                        De fato, o discurso de quase todo antropólogo, e quase todo intelectual é um discurso vadio, à toa, sem ocupação, dos folgados, dos ociosos que não têm PRESSA DE SALVAÇÃO de ninguém, nem sequer de si mesmos. Estão a serviço de aclamar os estrangeiros, especialmente os europeus, para ver se conseguem migalhas dos seus olhares, quando eles estejam desocupados de outras tarefas mais importantes. É o discurso da nova roupagem da escravidão, inventando e reinventando os motivos para os povos novo-colonizados continuarem a crer nos novo-colonizadores, reintroduzindo as imagens e os conceitos tidos como superiormente críveis e adotáveis por nossas mentes supostas tacanhas e incapazes de perceber a grandeza sem o trabalho vadio de tradução e adequação “às condições brasileiras”. É o trabalho da reevangelização no pior sentido, o de capar os porcos para a engorda socioeconômica pelos estrangeiros – pois tudo começa pela submissão mental e, portanto, pela castração dos pensadores locais que poderiam ousar desafiar o domínio alienígena.

                        Sem dúvida alguma Darcy estava certo, ele que foi sempre um lutador podado e violentado, que foi verdadeiramente um patriota profundo, um brasileiro da mais alta estirpe.

                        Nem chega a ser triste a presença de tais antropólogos. É apenas mais um índice das necessidades de alturas de ultrapassamento do dique de contenção mental que foi erguido em volta de nós por essa vadiagem medonha e amedrontada, que têm medo dos outros e até de suas próprias capacidades. Que nojo!

                        Vitória, sexta-feira, 11 de abril de 2003.

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