Motoristas de Ônibus
Uma vez, faz duas
décadas, li no antigo Pasquim (antes do relançamento pela atual editoria), que
um motorista tinha morrido debruçado sobre o volante: antes, cuidadosamente,
parou o carro no estacionamento e calmamente morreu de ataque cardíaco. Essa
imagem ficou na minha cabeça para sempre.
Naquele trânsito
horroroso do Rio de Janeiro, trabalhando até 14 horas por dia em busca das
horas-extras, eles eram e são supersacrificados, ganhando pouco para tanta
pressão e trabalho. É a mesma coisa em toda parte, por exemplo, em Vitória, com
ligeiras modificações. O mal-humor dos passageiros, as constantes freadas e
arranques, o calor, a fumaceira contínua dos demais ônibus, a poluição do ar e
sonora, cortar os carros, ser imprensado, ver os vencimentos sendo esmagados
pela inflação corrosiva (a de antes, galopante, a de agora mordente do mesmo
modo), as broncas dos patrões, a fiscalização dos fiscais da empresa, o perigo
de trombar com os demais veículos, a vida deles é torturante, é objeto de
tortura constante. É o inferno na Terra, pois certamente há algumas porções
deste purgatório que são mais tensas que as demais.
E eu nunca vi, nem
nunca soube, de algum monumento de agradecimento a eles (e elas, que são
pouquíssimas, nestes tempos de “libertação” feminina), uma estátua, uma
representação, a mínima consideração por quem nos leva e nos traz, às vezes com
certo acerbo mal-humor, também.
Não houve quem se
lembrasse deles.
Então, fica aqui o
meu agradecimento pelos milhares de vezes que fui de um lugar para outro, aos
seus cuidados (e dos trocadores, vale lembrar).
Vitória,
segunda-feira, 05 de maio de 2003.
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