terça-feira, 7 de fevereiro de 2017


Leotigre e as Quimeras

 

                            Um tanto antes da atual polêmica sobre clonagem, ainda em 1995 na edição brasileira, sobre fundo editorial italiano, a Enciclopédia Ilustrada de Pesquisa Conhecer 2000, São Paulo, Nova Cultural, fascículo 28 (Ciências; Biologia, Zoologia, Botânica – 1ª parte), p. 33, publicou uma foto do LEOTIGRE, mistura de leão e tigre – eles são aparentados geneticamente e podem cruzar, não era ainda mistura ou cruzamento genético. Era o que se chamava “manipulação da biotecnologia”.

                            O nome é bonitinho, a figura mais ainda, tudo deu certo, a propaganda age desse jeito ao apresentar só os produtos viáveis. É assim que a mentirada consegue vender as porcarias e os problemas de amanhã, pois a busca dos geneticistas não mostra a lata de lixo, os erros, as deformidades, as monstruosidades, para que, vendo-as, tivéssemos uma abordagem equilibrada, nem tanto á esquerda nem tanto à direita.

                            O resultado palpável é que as pessoas “compram a idéia”, admitem, permitem, abrem possibilidades de financiamento ao não se opor. Lá vão os políticos do Legislativo, os governantes do Executivo, os juizes do Judiciário, todos eufóricos, estusiasmadinhos mesmo, alargando estradas que vão ser caminhos dos criminosos. De início vão mostrando apenas as coisas que deram certo, nunca as aberrações, cujo conjunto vai despontar nalgum momento, naquele futuro de oposição. Depois vão perguntar como é que aconteceu. Aconteceu de estarem alguns idiotas desprevenidos (somos nós) e outros idiotas sabidinhos (são eles) querendo empurrar conseqüências funestas por nossas goelas abaixo, os custos ficando para o futuro, assim como ficou para nós as cagadas dos nossos antepassados que desmataram desbragadamente e ficará para nossos filhos e netos as nossas burrices, com a continuidade do desmatamento.

                            Só que nós já conhecemos os resultados do desmatamento, vimos fazendo essa bobagem há milênios; a besteira da clonagem é nova, é recentíssima. Se pelo menos eles mostrassem o lado podre, poderíamos ser mais cuidadosos e pagar talvez um preço menor mais adiante.
                            Vitória, quarta-feira, 19 de março de 2003.

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