Há Lusofonia?
Eu mesmo usei a palavra
para indicar “som luso” ou português, no sentido de uma comunidade mundial
lusófona, com centro do senado em Portugal, pátria-mãe lingüística, mas como
sempre o modelo responde que há e que não há.
Em Portugal, obviamente,
há, e em certo sentido há nas antigas colônias, Moçambique, Angola e outras
nações, onde o falar português ainda é muito semelhante ao da metrópole lingüística.
No Brasil não há, não há mais, aqui a fusão não é só gramatical com as línguas
nativas ou indígenas e com as africanas, com adendos asiáticos, ela é sonora
também, produzindo um monte de alterações regionais (no Rio Grande do Sul, na
Bahia, no Rio de Janeiro, em Minas Gerais, até no Espírito Santo).
Noel (de Medeiros) Rosa
(1910 a 1937, apenas 27 anos entre datas, mas que se tornou verdadeiramente
imortal) já havia identificado em suas músicas de 70 anos atrás que “o que o
malandro pronuncia já passou de português, é brasileiro”, como também já
analisei.
Não é ocultando a
realidade, como pretendia fazer Houaiss, que iremos construir a comunidade dita
lusófona. De modo algum! Apenas reconhecendo as diferenças nós caminharemos
para a igualdade. Não é chamando todos de homens ou todos de mulheres que
iremos moral e eticamente igualizar mulheres e homens, mas reconhecendo a cada
um e a cada uma, seu valor implícito, através da igualdade
políticadministrativa.
Há e não há lusofonia,
porque não falamos no Brasil com sons exatamente iguais aos da fala portuguesa
– há grande dessemelhança, a ponto de ser mais difícil entender os portugueses
que os espanhóis. Porém em Portugal, evidentemente, os sons são muito próximos,
nem sei se há dialetos por lá.
Isso de modo algum nos
impedirá de criar e fazer evoluir a comunidade lusófona, porque o que pretendemos
é o espírito da língua e não os sons ou as letras. A união é que nos interessa
e haverá de prevalecer.
Vitória, domingo, 06 de
abril de 2003.
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