sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017


Forma Torturante

 

                            É bonito de ver, sem dúvida alguma, tudo isso que é moda, tudo isso que renova a forma, mas por outro lado é angustiante também, porque a forma muda constantemente; ela se deteriora no que é antigo e deve ser re-novada o tempo inteiro, todos os anos para os carros, a cada seis meses ou menos para as roupas – é de fato frustrante.

                            Há gente que precisa disso, por se sentir insuficiente. Não se bastando, nem aos outros, substitui a pele através da pintura, das roupas, dos sapatos, dos chapéus, das pulseiras, das bijuterias, das jóias, dos brincos, de roupa de baixo, dos arranjos e das cores do cabelo, da mudança das unhas, do tratamento da pele. Claro, corpo-e-mente são 50/50, metade é por natureza corpo, ele deve ser respeitado, mas devemos igualmente ver que é gente sem cérebro, cujo acesso ao coletivo de trabalho é feito através da superfície, da forma, e não do conteúdo ou da estrutura - neste particular nada teria a oferecer.

                            Inclusive, devemos nos governempresas atentar para o oferecimento da forma, quando seja necessário o pensamento, sempre tendo reserva de considerar que 2,5 % dos bem vestidos TAMBÉM tem estrutura, em geral outros 47,5 % podendo tê-la em diferentes quantidades.

                            Porém, no universal, se alguém oferecer a forma é porque nada tem de conteúdo, naturalmente sendo a forma escamoteamento ou camuflagem. Se queremos pessoa para ficar à frente do balcão como bibelô agradável, está correto contratar os formais. Entrementes, se o objetivo é pensar, buscar em profundidade, comumente os relaxados gastarão seu tempo meditando, preocupando-se com as relações profundas e não a imagem ou figura.

                            Pois a forma está constantemente se deteriorando (física-quimicamente, biologicamente/p.2 e psicologicamente/p.3, quer dizer, caindo no desuso), necessitando de reposição freqüente. Isso corresponde a um gasto considerável de tempo do dia de 16 horas (pois temos 8 horas de sono, e aí somos todos iguais, não precisamos de enfeites). Quem pesquisa não agüenta isso, não.

                            Vitória, quarta-feira, 14 de maio de 2003.

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