Forma Torturante
É bonito de ver, sem
dúvida alguma, tudo isso que é moda, tudo isso que renova a forma, mas por
outro lado é angustiante também, porque a forma muda constantemente; ela se
deteriora no que é antigo e deve ser re-novada o tempo inteiro, todos os anos
para os carros, a cada seis meses ou menos para as roupas – é de fato
frustrante.
Há gente que precisa
disso, por se sentir insuficiente. Não se bastando, nem aos outros, substitui a
pele através da pintura, das roupas, dos sapatos, dos chapéus, das pulseiras,
das bijuterias, das jóias, dos brincos, de roupa de baixo, dos arranjos e das
cores do cabelo, da mudança das unhas, do tratamento da pele. Claro,
corpo-e-mente são 50/50, metade é por natureza corpo, ele deve ser respeitado,
mas devemos igualmente ver que é gente sem cérebro, cujo acesso ao coletivo de
trabalho é feito através da superfície, da forma, e não do conteúdo ou da
estrutura - neste particular nada teria a oferecer.
Inclusive, devemos
nos governempresas atentar para o oferecimento da forma, quando seja necessário
o pensamento, sempre tendo reserva de considerar que 2,5 % dos bem vestidos
TAMBÉM tem estrutura, em geral outros 47,5 % podendo tê-la em diferentes
quantidades.
Porém, no universal,
se alguém oferecer a forma é porque nada tem de conteúdo, naturalmente sendo a
forma escamoteamento ou camuflagem. Se queremos pessoa para ficar à frente do
balcão como bibelô agradável, está correto contratar os formais. Entrementes,
se o objetivo é pensar, buscar em profundidade, comumente os relaxados gastarão
seu tempo meditando, preocupando-se com as relações profundas e não a imagem ou
figura.
Pois a forma está
constantemente se deteriorando (física-quimicamente, biologicamente/p.2 e
psicologicamente/p.3, quer dizer, caindo no desuso), necessitando de reposição
freqüente. Isso corresponde a um gasto considerável de tempo do dia de 16 horas
(pois temos 8 horas de sono, e aí somos todos iguais, não precisamos de
enfeites). Quem pesquisa não agüenta isso, não.
Vitória, quarta-feira,
14 de maio de 2003.
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