sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017


Erros Irreversíveis

 

                            Vi em algum lugar anunciarem um livro de Scot Turow, creio, com esse nome: Erros Irreversíveis.

                            Deve ser erro do tradutor, porque erros, como acertos, são sempre irreversíveis, exatamente porque TODOS OS FATOS o são, e erros e acertos são, antes de tudo, fatos. A condição de qualquer coisa notável é ser fato, exceto Deus, que não é notável pelas mentes racionais, mas é fato, condição de todo fato. Entrementes, Deus é notável pelos seus atos produtivos, suas emanações, como diriam os cabalistas, e é daí que, embora não-notável diretamente, é-o pela sua produção.

                            Fatos marcam o tempo para nós, portanto fatos marcam-se como, julgados pelos racionais e suas escolhas, erros e acertos.

                            Me incomoda que as criaturas não tenham cuidado com os enunciados PORQUE, como disse a Clarice Lispector ao seu modo (que se não fôssemos corretos ao enunciar não saberíamos se estaríamos incivilizadamente sentados na mesa ou, civilizadamente, à mesa, na cadeira, junto à mesa), o falar correto é condição de avanço, de crescimento civilizatório.     

                            A vida incivilizada é ruim, não apenas para os de maior visão como para todos, porque fora dela os sentimentos e os pensamentos humanos mais apurados não podem manifestar-se – fica-se sempre rente à lama, como grama que muito se espalha mas não adquire altura.

                            Os tradutores precisam de um pouco mais de cuidado nas traduções e os editores devem cobrar deles providências para obter maior fidelidade à origem, quando não respeito à lógica da língua portuguesa.

                            Vitória, terça-feira, 13 de maio de 2003.

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