domingo, 5 de fevereiro de 2017


Filosofia, Segundo Durant

 

                            No livro já citado de Durant, p. 82, ele diz: “A filosofia é um estudo da parte à luz do todo”.

                            Pode parecer pouco, mas não é.

                            O Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) geral coloca a F/I como antecessora da C/T. Assim, poderíamos colocar um triângulo eqüilátero dividido em duas porções, uma negra e uma branca, para mostrar oposição/complementação.

                            F/I E C/T

                                                       Ciclo do Partodo ou Todoparte ou Hólon,

                                                       Movimento dedutivindutivo

                            Filosofia/Ideologia Ciência/Técnica

                            (Todo para a parte,                                               (da parte para o todo,

                            Dedutiva)                                                                 Indutiva)

                            Na Filosofia (e na sua contraparte menor, a Ideologia) o estudo se dá do todo para a parte, ou seja, como de um conjunto de memórias mais vasto a um outro menor, mais reduzido. É o da separação do todo em seus constituintes. É o da forma, das imagens, das emoções, das paixões, por conseguinte necessariamente emotivo. Na Ciência (e na Técnica, sua contraparte menor), a pesquisa é da parte para o todo, é o da junção dos pedaços num cenário mais vasto. É racional, é frio, é metódico, é a montagem de um quebra-cabeças feito de milhões de peças. Não é intuitivo, não depende de vastas visões sentimentais. A C/T salta sobre o precipício para reconstituir com segurança os grupamentos, enquanto a F/I mostra novos caminhos que se possa pressentir no todo.

                            Porém, veja que Durant diz que “A filosofia é um estudo DA PARTE À LUZ DO TODO”, maiúsculas minhas. Não é um mero estudo das partes, mas sim delas quando se tem no fundo a impressão ou gestalt (no alemão indicando configuração, forma, segundo a Barsa eletrônica) do todo. É o todo que é referência primária, do qual se decalcam as partes, um quadro onde desenhos são feitos. O todo pressiona as partes, como pai e mãe que se imprimem nos filhos enquanto herança ou transferência de carga genética, sobredeterminação ambiental. É prisão, não é índice de liberdade. O movimento contrário/complementar é o da C/T, que é pessoal, das partículas que recompõe o todo, que o re-formam a partir das estruturas.

                            Temos dois momentos: a) do todo para a parte o F/I que impõe limites às partes, que tolhe, mas proporciona unidade subjacente, chamamento das ortodoxias, e b) da parte para o todo o C/T que abre a novos todos, que é heterodoxo, que traz nova unidade, antes não vista, mas que subverte e impõe a tradição das novidades excessivas e angustiantes para os de menor poder aquisitivo mental.

                            Para a filosofia de que fala Durant, a parte só tem significado se no fundo houver um quadro conservador da unidade. A parte seria um apêndice obediente, o significado, o recebedor, enquanto o modelo ou estudo completo de fundo é que seria o significante, o doador. Numa qualquer ciência seria o contrário. A parte não existe sem o todo para a filosofia, ao passo que o todo é o reverenciado poder unificador, conservador por excelência.

                            Veja só quanto podemos tirar de uma frase, se a olhamos com atenção, principalmente se temos algo que a enquadre.

                            Vitória, terça-feira, 11 de março de 2003.

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