segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017


Capitalização

 

                            Na página 12 do livro 2, Linguagem-Enunciação, Enciclopédia Einaudi (não sei a cidade, Portugal, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 1984, sobre original italiano), de passagem o autor fala em “capitalização”, o que me levou às idéias seguintes.

                            No Aurélio eletrônico século XXI é o “ato ou efeito de capitalizar”. Capitalizar é “converter em capital”.

                            Veja, todo o Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) vai sendo permanentemente convertido em capital. Tudo nas 6,5 mil profissões serve a esse ato permanente de capitalizar. Nada é deixado de lado, tudo é arrastado. As PESSOAS (seis bilhões de indivíduos, mais de um bilhão de famílias, sabem-se lá quantos grupos, dezenas de milhões de empresas) e AMBIENTES (200 ou 300 mil municípios/cidades, quatro mil estados, 220 nações e um mundo), tudo, absolutamente tudo, é escravizado pelo Capital (em maiúscula conjunto ou família ou grupo de capitais). Os modos políticos passados (Escravismo e Feudalismo de bom grado, achando-o mais sábio, além de cínico) e os modos políticos futuros (Socialismo, Comunismo e Anarquismo de má vontade, detestando-o como estúpido e insolente) rendem-se, de um modo ou de outro, uns porque assim a desejam, a essa vassalagem abjeta, e outros dominados por punho de ferro e bota de soldado. As (até agora identificadas) 22 tecnartes, toda a pontescada tecnocientífica, as psicologias, as economias, tudo reza na cartilha do Capital – capitaliza, de vontade própria, ou é capitalizado, amordaçado e batido.

                            Assim, a capitalização é o ato permanente de con-verter, con-vencer as consciências e as in-consciências da propriedade do impróprio, isto é, de que a propriedade é legítima, legal (quando legalizada, ainda por cima) e até benéfica e humanizante.

                            Vê-se que a capitalização é o processo de convencimento dos seres, é a capitulação diante do Capital. Não é simplesmente produzir numerário, condições de trabalho maquinal, fábricas e extrações de tarefas, é o processo de dominação, a quietação das oposições, o que é feito de um milhão de modos, evidentes ou sutis, toda a farsa monstruosa.
                            Vitória, sexta-feira, 14 de março de 2003.

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