sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017


Botequins da Fé

 

                            No livro A Epopéia do Pensamento Ocidental (para compreender as idéias que moldaram nossa visão de mundo), Rio de Janeiro, Bertrand Brasil, 1999, p. 269, o autor, Richard Tarnas, diz:

                            “As guerras religiosas refletiam as violentas disputas sobre qual a concepção de verdade absoluta prevaleceria entre as seitas religiosas em constante multiplicação”. Observe que é guerra pela sobrevivência da concepção, não da verdade absoluta. E como hoje temos tal multiplicação de novo significa que há nova guerra.

                            Naturalmente essa multiplicação continua, cada vez mais aguda e feroz, como suposta democratização da fé, iniciada por Lutero e os seus semelhantes, essa rebentação sem fim que incomoda. Passada ao Brasil principalmente a partir da comercialização da fé com o bispo Edir Macedo e sua falsa Igreja Universal a partir da década dos 1980, ela prospera tremendamente, a ponto de na Grande Vitória, segundo notícias dos jornais, abrirem três ou quatro POR SEMANA. Isso é demanda? Certamente que é, em parte, mas é principalmente oferta.

                            Pois é sabido que os 10 % (o dízimo sacratíssimo) faz enriquecer os pastores, que compram casas, carros, fazem viagens, etc., tudo à custa daquela gente, já sangrada pelos governos. A vida deve estar bem ruim, mercê das falcatruas das elites, a ponto de o povo pobre e miserável se jogar nos braços da charlatã psicologia dessa fornada de pastores Wallita. Com uma semana de “teologia” eles ficam prontos.

                            Quaisquer sujeitinhos (e sujeitinhas, agora formam mulheres) que não tenha dado certo na empresa privada e não queira minimamente bater ponto nas repartições coloca “sua” congregação e vai tomar dinheiro dos bobos. Não tem tributo de nenhuma espécie, não tem controle, não tem absolutamente vigilância alguma, tudo em nome da “fé” e da pacificação e tosquia das ovelhas. Todo camarada perdido, que não consegue fazer nem para comer, se “imbui” da fé, simula uns tremeliques e se torna pastor. É o fim da picada.

                            E assim vão os templos proliferando como botequins, um em cada esquina, e tão sujos quanto eles, vulgarizando a fé de um modo insuportável, que dá engulhos na gente, os velhos vendilhões que Cristo expulsou e que voltaram dois mil anos depois.

                            Vitória, quarta-feira, 14 de maio de 2003.

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