Botequins da Fé
No livro A Epopéia do Pensamento Ocidental (para
compreender as idéias que moldaram nossa visão de mundo), Rio de Janeiro,
Bertrand Brasil, 1999, p. 269, o autor, Richard Tarnas, diz:
“As guerras
religiosas refletiam as violentas disputas sobre qual a concepção de verdade
absoluta prevaleceria entre as seitas religiosas em constante multiplicação”.
Observe que é guerra pela sobrevivência da concepção, não da verdade absoluta.
E como hoje temos tal multiplicação de novo significa que há nova guerra.
Naturalmente essa
multiplicação continua, cada vez mais aguda e feroz, como suposta
democratização da fé, iniciada por Lutero e os seus semelhantes, essa
rebentação sem fim que incomoda. Passada ao Brasil principalmente a partir da
comercialização da fé com o bispo Edir Macedo e sua falsa Igreja Universal a
partir da década dos 1980, ela prospera tremendamente, a ponto de na Grande
Vitória, segundo notícias dos jornais, abrirem três ou quatro POR SEMANA. Isso
é demanda? Certamente que é, em parte, mas é principalmente oferta.
Pois é sabido que os
10 % (o dízimo sacratíssimo) faz enriquecer os pastores, que compram casas,
carros, fazem viagens, etc., tudo à custa daquela gente, já sangrada pelos
governos. A vida deve estar bem ruim, mercê das falcatruas das elites, a ponto
de o povo pobre e miserável se jogar nos braços da charlatã psicologia dessa
fornada de pastores Wallita. Com uma semana de “teologia” eles ficam prontos.
Quaisquer
sujeitinhos (e sujeitinhas, agora formam mulheres) que não tenha dado certo na
empresa privada e não queira minimamente bater ponto nas repartições coloca
“sua” congregação e vai tomar dinheiro dos bobos. Não tem tributo de nenhuma
espécie, não tem controle, não tem absolutamente vigilância alguma, tudo em nome
da “fé” e da pacificação e tosquia das ovelhas. Todo camarada perdido, que não
consegue fazer nem para comer, se “imbui” da fé, simula uns tremeliques e se
torna pastor. É o fim da picada.
E assim vão os
templos proliferando como botequins, um em cada esquina, e tão sujos quanto
eles, vulgarizando a fé de um modo insuportável, que dá engulhos na gente, os
velhos vendilhões que Cristo expulsou e que voltaram dois mil anos depois.
Vitória,
quarta-feira, 14 de maio de 2003.
Nenhum comentário:
Postar um comentário