A Unanimidade é
Burra?
O auxiliar
fazendário N, que trabalhou comigo em Pequiá em março/2003, pegou os medalhões
e pendurou no meu pescoço, a modo de ver se me atrelava à dependência das
sacrossantas consciências, digamos de Freud. Desde muito cedo pensei nisso e vi
que a suposta autoridade é perigosa, porque, por princípio ou ela ou a citação
dela pelos seguidores quer suprimir o diálogo, não apenas a capacidade de
pensar de um, mas a própria necessidade do outro de responder com juízo.
Depois sacou essa de
que “toda unanimidade é burra”, creio que frase de Nelson Rodrigues, o grande
escritor brasileiro.
Analisando, podemos
pensar que nenhum racional pode, estando no mundo criado, perceber a
totalidade, porque para tal deveria vê-la de fora e, obviamente, estando dentro
não pode completar a Equação de Mundo, não pode ver o conjunto do Projeto do
Universo, isso que chamam de Plano da Criação e que apelidei de Desenho de
Mundo. Só Deus, dando o salto além do finito, mergulhando no não-finito
continuamente pode, na Tela Final, completar-se em Natureza e ser então
Natureza/Deus, Ela/Ele, ELI, o que é vedado a qualquer racional POR DEFINIÇÃO.
Assim, HÁ PELO MENOS
UMA UNANIMIDADE QUE NÃO É BURRA, Deus, sendo todas as demais burras, doutas
ignorâncias. Pois com relação a uma coisa, SÓ UMA, deve-se ser unânime – Deus é
Centro da esfera, em torno do qual todos os raios giram. Deus é Absoluto,
enquanto tudo mais é relativo. Assim, como já falei para a infeliz frase “tudo
é relativo”, um não é relativo, é absoluto – e do mesmo modo UMA UNANIMIDADE
não é burra.
Daí não podermos
dizer TODA porque seria totalização e esta ou está vedada ou, quando
pronunciada, leva a paradoxos. Pois, se TODA unanimidade for burra, ESTA
UNANIMIDADE, referindo-se a tudo, é burra também, e se é burra não precisamos
acreditar nela. Daí, se duvidamos de uma, podemos duvidar de todas, porque se o
afirmador não tem tino para afirmar a totalidade, tê-lo-á para afirmar cada
parte?
Veja que N, ele como
outros, é daqueles que suprime o diálogo pelo apelo e apego às crenças
pré-fixadas, aos chavões, aos lugares-comuns, às coisas batidas. Não traz
conhecimento novo porque não se esforça para pensar. Na realidade é partidário
da ditadura, da sobreposição de uns pelos outros. Se permite que lhe ditem a
realidade da consciência, que coisas mais não permitirá?
Vitória,
quarta-feira, 30 de abril de 2003.
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