quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017


A Unanimidade é Burra?

 

                            O auxiliar fazendário N, que trabalhou comigo em Pequiá em março/2003, pegou os medalhões e pendurou no meu pescoço, a modo de ver se me atrelava à dependência das sacrossantas consciências, digamos de Freud. Desde muito cedo pensei nisso e vi que a suposta autoridade é perigosa, porque, por princípio ou ela ou a citação dela pelos seguidores quer suprimir o diálogo, não apenas a capacidade de pensar de um, mas a própria necessidade do outro de responder com juízo.

                            Depois sacou essa de que “toda unanimidade é burra”, creio que frase de Nelson Rodrigues, o grande escritor brasileiro.

                            Analisando, podemos pensar que nenhum racional pode, estando no mundo criado, perceber a totalidade, porque para tal deveria vê-la de fora e, obviamente, estando dentro não pode completar a Equação de Mundo, não pode ver o conjunto do Projeto do Universo, isso que chamam de Plano da Criação e que apelidei de Desenho de Mundo. Só Deus, dando o salto além do finito, mergulhando no não-finito continuamente pode, na Tela Final, completar-se em Natureza e ser então Natureza/Deus, Ela/Ele, ELI, o que é vedado a qualquer racional POR DEFINIÇÃO.

                            Assim, HÁ PELO MENOS UMA UNANIMIDADE QUE NÃO É BURRA, Deus, sendo todas as demais burras, doutas ignorâncias. Pois com relação a uma coisa, SÓ UMA, deve-se ser unânime – Deus é Centro da esfera, em torno do qual todos os raios giram. Deus é Absoluto, enquanto tudo mais é relativo. Assim, como já falei para a infeliz frase “tudo é relativo”, um não é relativo, é absoluto – e do mesmo modo UMA UNANIMIDADE não é burra.

                            Daí não podermos dizer TODA porque seria totalização e esta ou está vedada ou, quando pronunciada, leva a paradoxos. Pois, se TODA unanimidade for burra, ESTA UNANIMIDADE, referindo-se a tudo, é burra também, e se é burra não precisamos acreditar nela. Daí, se duvidamos de uma, podemos duvidar de todas, porque se o afirmador não tem tino para afirmar a totalidade, tê-lo-á para afirmar cada parte?

                            Veja que N, ele como outros, é daqueles que suprime o diálogo pelo apelo e apego às crenças pré-fixadas, aos chavões, aos lugares-comuns, às coisas batidas. Não traz conhecimento novo porque não se esforça para pensar. Na realidade é partidário da ditadura, da sobreposição de uns pelos outros. Se permite que lhe ditem a realidade da consciência, que coisas mais não permitirá?

                            Vitória, quarta-feira, 30 de abril de 2003.

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