A Psicologia das
Pirâmides
Veja que os egípcios
tinham pavor da morte, tanto assim que se faziam embalsamar, esperando ser
ressuscitados algum dia, por qualquer virtude mágica. Tanto real quanto
virtualmente se preparavam durante a vida. Inventaram o mundo-pós-morte, a vida
após a morte, os espíritos, os duplos, o Ka. Enchiam as tumbas de produtos,
objetos e de pessoas que os iriam acompanhar no além.
Enfim, tinham essa
grande preocupação com a morte.
Vendo a Psicologia
(figuras ou psicanálises, objetivos ou psico-sínteses, produções ou economias,
organizações ou sociologias, espaçotempos ou geo-histórias) geral e sabendo que
iriam desaparecer, tanto como PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas)
quanto como AMBIENTES (municípios/cidades, estados ou províncias, nação e
mundo, até onde foram), certamente desejaram dar testemunhos de sua grandeza.
Pense num monte de
sacerdotes desocupados (para além das obrigações com respeito às cerimônias),
sem quase nada para fazer durante o dia quase todo, de domingo a sábado, 365
dias por ano, 40, 50, 60, 70 anos – pois iam desde crianças à escola de
sacerdócio. Aquela imensa turma recolhida, sem preocupação com plantar e
colher, sem necessidade de abrigo, com tudo providenciado à farta pelo Estado:
o que eles fariam?
Bem, por um lado
devem ter inventado muita coisa para continuarem sendo sustentados sem
trabalhar. Por outro lado, autênticas manifestações psicológicas devem ter
acontecido, bastante convincentes tanto dentro, no grupo muito exigente quanto
a encenações, quanto fora, para o povo. Coisas que são explicáveis hoje
surgiram então como obras do divino. Talvez sejam, no fundo, mas o fato é que
eles tinham muito tempo. Então, eles devem ter pensado “pra danar! ”, como diz
o povo, muito mesmo – coisas avançadas. Certamente foram capazes de se ver como
culminação geo-histórica do processo civilizatório e desejaram deixar, com toda
certeza, testemunhos da grandeza do Egito para o futuro.
Já vimos que as
pirâmides eram igrejas, templos, não cemitérios (por si mesmas, por suas
dimensões, atrairiam o olhar de longe – quem se atreveria a deixar ali, em
quaisquer corredores, riquezas e corpos?). O mais provável, já discutimos isso,
é que sejam urnas de tempo, mas não como essas que nosso próprio tempo tem enterrado,
meramente com objetos. Se a civilização vai decair, se os profanos vão vir de
qualquer jeito, o mais razoável é enterrar os objetos mais preciosos dentro da
pirâmide, até sem corredor algum, esperando que as pedras sejam retiradas uma a
uma, encontrando-se os objetos numa ou em várias covas fechadas de todos os
lados, completamente incomunicável.
As próprias
pirâmides seriam as urnas de tempo.
Não embaixo delas,
nem do lado através de qualquer indicação fácil ou difícil, mas apenas a
solução mais simples: montanhas irremovíveis de pedra, que só uma
civilização muito mais avançada e potente seja capaz de remover, para encontrar
os tesouros.
Elas estão lá para serem
desmontadas.
Vitória, sábado, 12
de abril de 2003.
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