sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017


A Psicologia das Pirâmides

 

                            Veja que os egípcios tinham pavor da morte, tanto assim que se faziam embalsamar, esperando ser ressuscitados algum dia, por qualquer virtude mágica. Tanto real quanto virtualmente se preparavam durante a vida. Inventaram o mundo-pós-morte, a vida após a morte, os espíritos, os duplos, o Ka. Enchiam as tumbas de produtos, objetos e de pessoas que os iriam acompanhar no além.

                            Enfim, tinham essa grande preocupação com a morte.

                            Vendo a Psicologia (figuras ou psicanálises, objetivos ou psico-sínteses, produções ou economias, organizações ou sociologias, espaçotempos ou geo-histórias) geral e sabendo que iriam desaparecer, tanto como PESSOAS (indivíduos, famílias, grupos e empresas) quanto como AMBIENTES (municípios/cidades, estados ou províncias, nação e mundo, até onde foram), certamente desejaram dar testemunhos de sua grandeza.

                            Pense num monte de sacerdotes desocupados (para além das obrigações com respeito às cerimônias), sem quase nada para fazer durante o dia quase todo, de domingo a sábado, 365 dias por ano, 40, 50, 60, 70 anos – pois iam desde crianças à escola de sacerdócio. Aquela imensa turma recolhida, sem preocupação com plantar e colher, sem necessidade de abrigo, com tudo providenciado à farta pelo Estado: o que eles fariam?

                            Bem, por um lado devem ter inventado muita coisa para continuarem sendo sustentados sem trabalhar. Por outro lado, autênticas manifestações psicológicas devem ter acontecido, bastante convincentes tanto dentro, no grupo muito exigente quanto a encenações, quanto fora, para o povo. Coisas que são explicáveis hoje surgiram então como obras do divino. Talvez sejam, no fundo, mas o fato é que eles tinham muito tempo. Então, eles devem ter pensado “pra danar! ”, como diz o povo, muito mesmo – coisas avançadas. Certamente foram capazes de se ver como culminação geo-histórica do processo civilizatório e desejaram deixar, com toda certeza, testemunhos da grandeza do Egito para o futuro.

                            Já vimos que as pirâmides eram igrejas, templos, não cemitérios (por si mesmas, por suas dimensões, atrairiam o olhar de longe – quem se atreveria a deixar ali, em quaisquer corredores, riquezas e corpos?). O mais provável, já discutimos isso, é que sejam urnas de tempo, mas não como essas que nosso próprio tempo tem enterrado, meramente com objetos. Se a civilização vai decair, se os profanos vão vir de qualquer jeito, o mais razoável é enterrar os objetos mais preciosos dentro da pirâmide, até sem corredor algum, esperando que as pedras sejam retiradas uma a uma, encontrando-se os objetos numa ou em várias covas fechadas de todos os lados, completamente incomunicável.

                            As próprias pirâmides seriam as urnas de tempo.

                            Não embaixo delas, nem do lado através de qualquer indicação fácil ou difícil, mas apenas a solução mais simples: montanhas irremovíveis de pedra, que só uma civilização muito mais avançada e potente seja capaz de remover, para encontrar os tesouros.

                            Elas estão lá para serem desmontadas.

                            Vitória, sábado, 12 de abril de 2003.

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