sábado, 4 de fevereiro de 2017


A Nova Divisão

 

                            Conforme anunciei, a falta da do que chamei de Flecha Vermelha (a ex-URSS e seus satélites) fez a Flecha Azul (os EUA e seus satélites) enlouquecer depois de 1991. Mais ainda, a ausência dela levou à esperada e temida superconcentração das rendas em todas as partes, com as burguesias endurecendo suas posições, o que fatalmente levará a guerras sucessivas externas e, pior ainda, internas, porque neste caso os que se defrontam tem o mesmo porte em termos de Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, filosofia/ideologia, Ciência/Técnica e Matemática).

                            De um lado os burgueses não temem mais avançar rumo à superconcentração porque não há temor externo. De outro lado os proletários, vendo que nenhum auxílio é prometido de fora, acabam por lançar-se aos conflitos de próprio punho, com seus próprios recursos.

                            Isso se pode sentir como um alargamento do fosso que separa os ricos e médios-altos dos pobres e miseráveis, estes se lançando à baderna e à pirataria desenfreada, desacreditando dos mitos e das verdades tão longamente plantadas. Pipocamento de novas religiões e seitas infindáveis, que no final é divisão temível, descaso com a moral, perda dos valores ancestrais e familiares, dissociação crescente das famílias, mortes e assassinatos, roubos e furtos em quantidades incomparavelmente maiores, raptos, tudo isso que estamos vendo. Rapidamente aparecerá o Homem Forte, o cara que dará fim a todas as brutalidades pequenas com a grande brutalidade.

                            Como mostrei, logo depois da Segunda Guerra mundial, naquele interregno de 23 anos que foi de 1945 a 1968, surgiram no Brasil (no mundo inteiro cada país apresentou sua solução) os que transpuseram o fosso, unindo povo e elites em povelite ou nação. Na música quem fez isso foi João Gilberto, ápice de um grupo. Agora não há quem deseje encampar essa reunião, razão pela qual a desunião prospera e viceja. Coisas horríveis estão acontecendo. Não que aquele conflito vai-não-vai, todo aquele medo contínuo fosse melhor. Não era. Mas o que estamos vendo caminha para ser pior.

                            Vitória, segunda-feira, 03 de março de 2003.

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