A Morte do Meu Pai
Um dos nossos amigos
diz que é personalismo falar de nossas coisas nos escritos, do que discordo, me
parece mais uma lição de vida que tomei em primeira mão.
Meu pai morreu em
1978, 13 de outubro.
Dias antes caiu do
telhado da casa de praia em Conceição da Barra, ES, sofreu uma concussão na
cabeça, o sangue se espalhou, ele mergulhou na inconsciência. Eu o tinha na
mais alta conta, pois caminhoneiro que era na minha infância, viajava, ficava
muitos dias fora, voltava com a barba por fazer, me afagava e passava-a em mim,
o que provocava cócegas. Essa intimidade sempre foi profundamente gratificante
e eu me sentia próximo demais dele. Um dia, no mês de setembro anterior
brigamos lá mesmo no balneário, eu já tinha 24 anos e tinha fracassado em tudo
que as pessoas prezavam.
Ficou preso ao leito
hospitalar em Linhares um tempão, no Hospital Beneficente Rio Doce, até os
médicos idiotas recomendarem a remoção a Vitória, onde foi operado para a
retirada do sangue no Hospital da Vila Rubim, sofrendo uma parada cardíaca. Em
minha mente eu desejei atear fogo no local. Lá em Linhares demoraram demais
para se renderem à sua incapacidade de tratá-lo, quando o cérebro dele já
estava comprometido, e aqui foram de uma imperícia a toda prova, o que me fez
desconfiar dos médicos e da Medicina para sempre. Bem sei que salva vidas e é
conforto para tantas famílias, mas fica a lição de que devemos manter os
médicos e a Medicina sob rédeas curtíssimas, de extraordinária exigência, pois
eles e ela mexem com as nossas almas. Seria preciso criar um Fórum Mundial de Imperícia Médica,
contando todos os casos, dos mais brandos aos mais estarrecedores. Não se trata
do meu pai, trata-se do Pai geral, em maiúscula os pais de todos os seres
humanos.
Vitória, domingo, 02
de março de 2003.
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