A Descoberta do
Universo
Do livro Civilizações Extraterrestres (Rio de
Janeiro, Nova Fronteira, 1980, original americano de 1979), de Isaac Asimov,
extrairei algumas passagens:
- AS NEGAÇÕES TECNOCIENTÍFICAS (p.
10): Foi
admitido por quase todos os povos através de quase toda a história que não
estamos sozinhos. A existência de outras inteligências tem sido aceita
como coisa natural. Tais convicções não surgiram do avanço da ciência.
Pelo contrário. O que a ciência tem feito é desmontar as bases das primeiras
e eventuais suposições sobre a existência de outra-inteligência”. Veja que
o Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia,
Ciência/Técnica e Matemática) geral é largo, alto e profundo; no entanto,
a tecnociência, em especial a Ciência (Física/Química, Biologia/p.2,
Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5 e Dialógica/p.6) quis
ficar com a liberdade só para si, excluindo todos os demais (75 %) da
partilha das dádivas da Mesa posta para diversão de todos. O mundo não
seria muito mais divertido se fosse mais aberto à passagem de todos e de
cada um?
- O QUE NÃO EXISTIA (p. 13): “Qualquer cientista tem de
admitir que não conhecemos todas as leis da natureza possíveis de existir,
e que não compreendemos inteiramente as implicações e limitações das leis
da natureza cuja existência supomos”. Seria interessante fazer, para cada
cem anos (períodos mais curtos, de 10 anos, de um ano, seriam tediosos
para o passado, enquanto para o presente demandariam muito tempo) A
LISTAGEM DE TUDO QUE VEMOS AGORA E QUE TODAVIA NÃO EXISTIA PARA A CIÊNCIA,
conforme fôssemos recuando. Seria no mínimo curioso ver de quantas coisas
o universo estaria despojado, se as pessoas acreditassem piamente nos
tecnocientistas.
- EXPERIMENTAÇÃO GERAL (p. 16): “Na discussão em torno da
inteligência não-humana que nos ocupará, não consideraremos nem anjos nem
demônios, nem Deus nem o Diabo, e muito menos nada que não seja acessível
a observação, experimentação e razão”. Se for assim, o que sobrará? Pois
tudo, em todas as formas de busca do Conhecimento é: 1) observação, 2) experimentação,
e 0) razão. Por quê a inteligência dos outros é sempre menor que a da
gente e os interesses alheios menos nobres? Ora, os demais modos de
Conhecimento também observam, experimentam, têm razão, raciocinam, sentem,
tanto quanto a tecnociência. E, se existe Deus, sendo ele por definição o
Ser Perfeito, está no Alto, muito além do poço não-finito, supondo-se que
do lado de cá os anjos que o olham em adoração e o servem estejam muito
além dos seres humanos, inclusive, é claro, dos cientistas e dos técnicos,
embora estes também se sintam além da humanidade. Todos estão observando,
todos estão experimentando, todos estão raciocinando, embora não do mesmo
modo. Que nem por serem diferentes podem ser taxados de inautênticos.
- ELIMINANDO AS COISAS MARAVILHOSAS
(p. 16): “Em
nossa busca de inteligência não-humana sobre a Terra, tendo eliminado todas as coisas
maravilhosas que a imaginação humana tem construído a partir do
nada, devemos procurar encontrar o que pudermos nas coisas obtusas que
sentimos e observamos”, negrito e colorido meus. Se dependesse dos
tecnocientistas, se os magicartistas não tivessem insistido, se os
teo-religiosos não tivessem querido, se os filo-ideólogos não tivessem
batido o pé, que pobre seria a Terra hoje, sentimentalmente; apenas aquelas
durezas característica do conhecimento tecnocientífico unilateral. Que
miséria de saber parcial, incompleto, pepenga (que manca de uma perna, no
dizer popular), capenga, defeituoso de equilíbrio. Toda ficção, toda
fantasia, todas as músicas, todos os desenhos, quadros, pinturas,
fotografias, todas as tecnartes teriam sido suprimidas, todas as
maravilhas enxotadas. Não são mais criativos, esses, que podem criar do
nada, do que aqueles que só o podem fazer com objetos à sua frente?
- O QUE É INTELIGÊNCIA? (P. 16): “De modo algum é atitude
indiscutível, pois não é impossível pensar que a consciência e a
inteligência sejam inerentes a toda a matéria, e que até mesmo átomos
isolados possuam uma certa microquantidade dessas coisas”. Eu me via como
mais atrasado do que os tecnocientistas e seus divulgadores, mas vi depois
do modelo que não. A micropirâmide (campartícula fundamental,
subcampartículas, átomos, moléculas, replicadores, células, órgãos,
corpomentes) estabelece o limite da não-inteligência. Tudo que tem
corpo-e-mente já é racional, portanto tudo que está além dos fungos e das
plantas já têm razão. A mesopirâmide (PESSOAS: indivíduos, famílias,
grupos, empresas; AMBIENTES: municípios/cidades, estados, nações, mundos)
estabelecem os que administram ou gerem os ambientes, construindo-os como
programáquinas nos quais vivem e dos quais extraem os recursos de
autoconstrução. Ora, inteligência é tudo que é indivíduo, que tem
memória-que-muda, isto é, que é capaz de gerar memórias novas. Os
critérios são bem determinados e explícitos, qualquer um pode ver; com
eles podemos medir quaisquer inteligências e em que planos elas se
encontram na automontagem do universo. Doravante não teremos dúvida
alguma. Se há empresas em Alfa do Centauro há lá inteligência. Se prédios
podem ser encontrados nos municípios, mas não houver qualquer racional por
perto, podemos concluir que houve, sem dúvida alguma, e a xenoarqueologia
poderá aquilatar dos avanços dos centaurinos presumidos. Isso coloca toda
uma nova visão de mundo, bem como uma nova ficção científica.
Veja então você a quantidade de
preconceitos que temos, inclusive uma pessoa admirável como Isaac Asimov (ele
não era somente extraordinário ficcionista, como também tinha grau de doutor em
Química e escreveu quase cinco centenas de livros, se não estou enganado).
Quanto perdemos por não pesquisarmos
mais as demais vertentes? Nunca saberemos, mas podemos estimar que muito. O que
vimos do universo no passado antes da Tecnociência geral foi pouco, mas agora,
com a superpresença dela, com a opressiva mania restritiva dela, continuamos a
ver pouco das possibilidades do universo.
Vitória, terça-feira, 10 de junho de
2003.
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