sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017


A Descoberta do Universo

 

                        Do livro Civilizações Extraterrestres (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1980, original americano de 1979), de Isaac Asimov, extrairei algumas passagens:

  • AS NEGAÇÕES TECNOCIENTÍFICAS (p. 10): Foi admitido por quase todos os povos através de quase toda a história que não estamos sozinhos. A existência de outras inteligências tem sido aceita como coisa natural. Tais convicções não surgiram do avanço da ciência. Pelo contrário. O que a ciência tem feito é desmontar as bases das primeiras e eventuais suposições sobre a existência de outra-inteligência”. Veja que o Conhecimento (Magia/Arte, Teologia/Religião, Filosofia/Ideologia, Ciência/Técnica e Matemática) geral é largo, alto e profundo; no entanto, a tecnociência, em especial a Ciência (Física/Química, Biologia/p.2, Psicologia/p.3, Informática/p.4, Cosmologia/p.5 e Dialógica/p.6) quis ficar com a liberdade só para si, excluindo todos os demais (75 %) da partilha das dádivas da Mesa posta para diversão de todos. O mundo não seria muito mais divertido se fosse mais aberto à passagem de todos e de cada um?
  • O QUE NÃO EXISTIA (p. 13): “Qualquer cientista tem de admitir que não conhecemos todas as leis da natureza possíveis de existir, e que não compreendemos inteiramente as implicações e limitações das leis da natureza cuja existência supomos”. Seria interessante fazer, para cada cem anos (períodos mais curtos, de 10 anos, de um ano, seriam tediosos para o passado, enquanto para o presente demandariam muito tempo) A LISTAGEM DE TUDO QUE VEMOS AGORA E QUE TODAVIA NÃO EXISTIA PARA A CIÊNCIA, conforme fôssemos recuando. Seria no mínimo curioso ver de quantas coisas o universo estaria despojado, se as pessoas acreditassem piamente nos tecnocientistas.
  • EXPERIMENTAÇÃO GERAL (p. 16): “Na discussão em torno da inteligência não-humana que nos ocupará, não consideraremos nem anjos nem demônios, nem Deus nem o Diabo, e muito menos nada que não seja acessível a observação, experimentação e razão”. Se for assim, o que sobrará? Pois tudo, em todas as formas de busca do Conhecimento é: 1) observação, 2) experimentação, e 0) razão. Por quê a inteligência dos outros é sempre menor que a da gente e os interesses alheios menos nobres? Ora, os demais modos de Conhecimento também observam, experimentam, têm razão, raciocinam, sentem, tanto quanto a tecnociência. E, se existe Deus, sendo ele por definição o Ser Perfeito, está no Alto, muito além do poço não-finito, supondo-se que do lado de cá os anjos que o olham em adoração e o servem estejam muito além dos seres humanos, inclusive, é claro, dos cientistas e dos técnicos, embora estes também se sintam além da humanidade. Todos estão observando, todos estão experimentando, todos estão raciocinando, embora não do mesmo modo. Que nem por serem diferentes podem ser taxados de inautênticos.
  • ELIMINANDO AS COISAS MARAVILHOSAS (p. 16): “Em nossa busca de inteligência não-humana sobre a Terra, tendo eliminado todas as coisas maravilhosas que a imaginação humana tem construído a partir do nada, devemos procurar encontrar o que pudermos nas coisas obtusas que sentimos e observamos”, negrito e colorido meus. Se dependesse dos tecnocientistas, se os magicartistas não tivessem insistido, se os teo-religiosos não tivessem querido, se os filo-ideólogos não tivessem batido o pé, que pobre seria a Terra hoje, sentimentalmente; apenas aquelas durezas característica do conhecimento tecnocientífico unilateral. Que miséria de saber parcial, incompleto, pepenga (que manca de uma perna, no dizer popular), capenga, defeituoso de equilíbrio. Toda ficção, toda fantasia, todas as músicas, todos os desenhos, quadros, pinturas, fotografias, todas as tecnartes teriam sido suprimidas, todas as maravilhas enxotadas. Não são mais criativos, esses, que podem criar do nada, do que aqueles que só o podem fazer com objetos à sua frente?
  • O QUE É INTELIGÊNCIA? (P. 16): “De modo algum é atitude indiscutível, pois não é impossível pensar que a consciência e a inteligência sejam inerentes a toda a matéria, e que até mesmo átomos isolados possuam uma certa microquantidade dessas coisas”. Eu me via como mais atrasado do que os tecnocientistas e seus divulgadores, mas vi depois do modelo que não. A micropirâmide (campartícula fundamental, subcampartículas, átomos, moléculas, replicadores, células, órgãos, corpomentes) estabelece o limite da não-inteligência. Tudo que tem corpo-e-mente já é racional, portanto tudo que está além dos fungos e das plantas já têm razão. A mesopirâmide (PESSOAS: indivíduos, famílias, grupos, empresas; AMBIENTES: municípios/cidades, estados, nações, mundos) estabelecem os que administram ou gerem os ambientes, construindo-os como programáquinas nos quais vivem e dos quais extraem os recursos de autoconstrução. Ora, inteligência é tudo que é indivíduo, que tem memória-que-muda, isto é, que é capaz de gerar memórias novas. Os critérios são bem determinados e explícitos, qualquer um pode ver; com eles podemos medir quaisquer inteligências e em que planos elas se encontram na automontagem do universo. Doravante não teremos dúvida alguma. Se há empresas em Alfa do Centauro há lá inteligência. Se prédios podem ser encontrados nos municípios, mas não houver qualquer racional por perto, podemos concluir que houve, sem dúvida alguma, e a xenoarqueologia poderá aquilatar dos avanços dos centaurinos presumidos. Isso coloca toda uma nova visão de mundo, bem como uma nova ficção científica.

Veja então você a quantidade de preconceitos que temos, inclusive uma pessoa admirável como Isaac Asimov (ele não era somente extraordinário ficcionista, como também tinha grau de doutor em Química e escreveu quase cinco centenas de livros, se não estou enganado).

Quanto perdemos por não pesquisarmos mais as demais vertentes? Nunca saberemos, mas podemos estimar que muito. O que vimos do universo no passado antes da Tecnociência geral foi pouco, mas agora, com a superpresença dela, com a opressiva mania restritiva dela, continuamos a ver pouco das possibilidades do universo.

Vitória, terça-feira, 10 de junho de 2003.

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