sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017


1 %

 

                            Uma vez estava num desses autoprogramas inúteis de “malhar”, fazendo algum tipo de exercício de remorso de gordo em Pequiá, no quarto do posto fiscal Zito Pinel onde trabalho, e o joelho dobrou. Depois, de vez em quando, algo saía do lugar, com muita dor sendo reposto. Passados os anos, num dia certo dia de pisada forte de grande raiva fê-lo dobrar de vez, passei a me arrastar.

                            Fui aos médicos, a tal da segunda opinião, era definitivo, tinha de operar pela UNIMED, modalidade empresarial, tudo “gratuito”, fora a mensalidade relativamente larga, dois SM. Perguntado qual a chance de, tendo diabetes, haver algum acidente do qual a pessoa morresse, disse-me aquele determinado curador que era de um por cento.

                            Complacentemente ele disse isso. Do outro lado dos 99/1 estava eu, como estaria qualquer vida lembrança estatística. Com base na aceitação de tal percentual um em cada cem prédios ruiria, um em cada cem jornais não viria às ruas, um em cada cem chamadas iria parar num lugar totalmente distinto. Esse mero UM POR CENTO significa em seis bilhões de seres humanos 60 milhões de mortes toleradas por período de tempo, não sei qual é. Um por cento significaria que o general veria um em cada cem soldados desaparecer, sem perguntar a causa – sumiu, simplesmente.

                            Esse 1 % é o tipo de coisa que passa despercebida nos governos, nas empresas ineficientes, na Medicina. Ninguém investiga, ninguém fala nada, com tal nível altíssimo de morte por incompetência ou por falta de pesquisas e conhecimento bastante elevado. Como é que a humanidade consegue ir em frente com tão larga desconsideração pelo próximo? Devo dizer que nunca voltei lá. Como já contei, fui a um benzedor e daí para frente quase nada sinto de dor.
                            Vitória, domingo, 02 de março de 2003.

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