1 %
Uma vez estava num
desses autoprogramas inúteis de “malhar”, fazendo algum tipo de exercício de
remorso de gordo em Pequiá, no quarto do posto fiscal Zito Pinel onde trabalho,
e o joelho dobrou. Depois, de vez em quando, algo saía do lugar, com muita dor
sendo reposto. Passados os anos, num dia certo dia de pisada forte de grande
raiva fê-lo dobrar de vez, passei a me arrastar.
Fui aos médicos, a
tal da segunda opinião, era definitivo, tinha de operar pela UNIMED, modalidade
empresarial, tudo “gratuito”, fora a mensalidade relativamente larga, dois SM.
Perguntado qual a chance de, tendo diabetes, haver algum acidente do qual a
pessoa morresse, disse-me aquele determinado curador que era de um por cento.
Complacentemente ele
disse isso. Do outro lado dos 99/1 estava eu, como estaria qualquer vida
lembrança estatística. Com base na aceitação de tal percentual um em cada cem
prédios ruiria, um em cada cem jornais não viria às ruas, um em cada cem
chamadas iria parar num lugar totalmente distinto. Esse mero UM POR CENTO
significa em seis bilhões de seres humanos 60 milhões de mortes toleradas por
período de tempo, não sei qual é. Um por cento significaria que o general veria
um em cada cem soldados desaparecer, sem perguntar a causa – sumiu, simplesmente.
Esse 1 % é o tipo de
coisa que passa despercebida nos governos, nas empresas ineficientes, na
Medicina. Ninguém investiga, ninguém fala nada, com tal nível altíssimo de
morte por incompetência ou por falta de pesquisas e conhecimento bastante
elevado. Como é que a humanidade consegue ir em frente com tão larga
desconsideração pelo próximo? Devo dizer que nunca voltei lá. Como já contei,
fui a um benzedor e daí para frente quase nada sinto de dor.
Vitória, domingo, 02
de março de 2003.
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