Um Programa de
Primeiro Mundo
Imaginei no modelo
que existem quatro mundos. Como eram 217 os países, ainda há pouco, grosso modo
cada grupo teria 55 deles.
Essa classificação
em “mundos” começou com a briga das superpotências e seus “satélites”, os países
de cada órbita em volta de seu Sol políticadministrativo, EUA de um lado e URSS
de outro, o que terminou em 1991 com o fim desta última, sucedida em dimensão
bem reduzida – em todos os sentidos – pela CEI, Comunidade dos Estados
Independentes, que tem a Rússia como centro.
Daí, o “primeiro
mundo” era constituído dos EUA, Europa, Japão e demais países “ocidentais”
industrializados. O “segundo mundo” eram a URRS e satélites, Cuba, Vietnam,
Coréia, China e todos os países presumidamente socialistas. Já “terceiro mundo”
era tudo que não cabia aí, os então denominados “países subdesenvolvidos”, cuja
nomenclatura “politicamente correta” agora é “países em desenvolvimento”
(Brasil, América do Sul, México, “dragões” asiáticos), ou “novos países
industrializados” (Coréia do Sul, Hong Kong, Taiwan, Singapura – os “tigres”
asiáticos).
E, com grande
deboche, passaram a falar de “quarto mundo”, o resto do resto, os mais
atrasados dentre a plebe, o rebotalho humano mesmo, em termos de riqueza
quantitativa, tal como eles mediam e medem.
Bom, no modelo não
há nada disso.
A classificação é
transitória, porque as coisas mudam em ciclos. Quem está por cima hoje bem pode
estar por baixo dentro de algumas décadas, como se viu com a Rússia. E no
modelo não há conotações políticas separatistas. Os critérios são variados e
objetivos/subjetivos. Lógico que os subjetivos dependem de outras avaliações
mais complexas, de modo que falarei dos critérios
objetivos: 1) riqueza, 2) área, 3) população, 4) renda percapita, 5) serviços
de água e esgoto, e vários outros, que podemos acrescentar à vontade. De modo
que não haverá uma lista única. Um país pode ser o primeiro numa lista, mas ser
o décimo em outra. Digamos em IDH, o Índice de Desenvolvimento Humano, da ONU.
Decididamente existe
um primeiro mundo, ou várias listagens em que algum país aparecerá como
primeiro do primeiro mundo.
O Brasil ambiciona,
faz bastante tempo, mas com mais certeza desde Collor em 1989, estar neste
clube dos primeiros. Enquanto economia está em nono lugar, incluída a China, e
em quarto, excluída a China e considerando a Europa dos 15 uma só.
Essa constatação,
que para mim já é antiga, me fez perguntar O QUÊ, EXATAMENTE, é o primeiro
mundo. A gente vê frações pelo TV, em revistas, ouve músicas e notícias nos
rádios, lê livros, assiste filmes, ouve contar, consulta a Internet, lê
jornais, mas não fica sabendo PARTICULARMENTE o que vem a ser o tal primeiro
mundo, para, por exemplo, comparar com as condições brasileiras.
Como eles moram?
Como trabalham? No quê acreditam? Muitas perguntas nos vêm à mente.
Fiquei pensando que
a mídia pode destinar, no Brasil como em outros países ditos latinos, um
percentual de sua capacidade em nos elucidar quanto àquilo que eles são e como
operam, e a distância que estamos deles, para aprendermos a pleitear junto aos
governos brasileiros (federação, estados, municípios/cidades). Em especial um,
de TV, com o nome do título: programa
PRIMEIRO MUNDO.
Se estamos a caminho
do primeiro mundo, não é justo que cheguem lá só as elites brasileiras. Seria
mais correto o povo ir também. Sem sabermos o quê é o primeiro mundo, como povo
o que poderemos pedir às elites daqui? Sem base informativa não muda o controle
político.
Vitória,
sexta-feira, 19 de abril de 2002.
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