quinta-feira, 1 de dezembro de 2016


Que Doideira!

 

Durante minha vida inteira de memórias (desde os quatro, 57 anos) sempre fui injuriado, sempre zombaram de mim e foi preciso grande dose de indulgência, extrema competência em tolerar os acalantos ou afagos do chicote. Também, estava sempre distraído pensando, coisa miúda não incomoda tanto, mas a persistência no mesmo ponto durante décadas atrapalha um pouco, não vou negar.

Sempre me chamaram de doido.

No Fisco, por enfrentar as chefias e outras coisas.

Contudo, como já disse, não bati em mulheres nem em crianças, não parei em filas duplas, não minto, não falsifico, não traio nem os inimigos.

Depois o doido sou eu!

Dizem que sou maluco, mas não desviei verbas, não subverti (embora tivesse grande vontade de guerrear contra o capitalismo desabonador de quase todos), não entreguei, não corrompi, não consumi drogas (fora maconha, pouca, quando me ofereciam, junto com os amigos, umas tantas vezes, umas 10, se tanto), nem muito menos drogas injetáveis, não participei de bandalheiras sexuais, não roubei nem furtei de pessoas. Bebi bastante, poucas vezes demais. Não cometi atrocidades, não violentei mulheres, não matei (não contando baratas, moscas e mosquitos – sequer ratos), obedeci aos 10 mandamentos (embora fosse agnóstico, depois ateu, dos 18 aos 43 anos), não roubei no peso, não diminui o tamanho das varas de ferro e assim por diante. Não tomei pedaços dos lotes alheios, não deixei de pagar as taxas e os impostos.

Então, para ser doido neste mundo é preciso que o mundo seja completamente maluco, como é.

E é isso que falta, uma análise mais ou menos geral, mais ou menos pormenorizada das monstruosidades deste mundo do cão. Um ou vários livros, uma investigação de todas as anormalidades, todas as deformidades de nossa espécie – como dizem as crianças agora, doidaraça! Muito doida, de fato.

Serra, sexta-feira, 13 de novembro de 2015.

GAVA.

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