O Mundo Assombrado
pelos Cientistas
No livro de Carl
Sagan, O Mundo Assombrado pelos Demônios (A Ciência Vista como uma Vela no
Escuro), São Paulo, Cia. Das Letras, 1996, o capítulo 7 tem esse título, p. 121
e ss., e ele opõe a Ciência, tomada como Conhecimento (como se não houvesse
outros), a todas as outras formas dele, que levariam ao obscurecimento da
razão.
É claro, a Ciência,
que Sagan amava, é a heroína.
Também amo a
Ciência, o conjunto de ciências, mas não perco de vista o seu lado negativo.
Para começar, dizem
que 50 % dos cientistas trabalham para a chamada “indústria da morte”, o complexo industrial-militar, que
trabalha constantemente para aprimorar e tornar mais variados e eficazes os
modos de matar seres humanos e desfigurar as paisagens. Coloquei “dizem”,
porque é tudo secreto, mas quem estuda esse lado fala em tal percentual.
Depois, os
cientistas realmente fizeram coisas notáveis, memoráveis, fantásticas,
francamente libertárias, e aplaudo até o furor esse lado.
Contudo, sendo as
coisas de soma zero, decorre de cada conquista uma série extraordinária de problemas,
que às vezes agudizam em lugar de melhorar a situação geral da humanidade.
Pode-se dizer que não é culpa deles, mas a verdade é que lhes falta visão de
conjunto, de totalidade da matriz vital e racional da Terra, e, portanto, eles
propõem soluções de momento, que servem naquele pontinstante ali, sem maiores
considerações sobre a letalidade subseqüente das soluções em outros pontos.
Tal como com os
técnicos, de que são os mentores, especialmente os engenheiros, a solução é
local, aplicada naquele tempo preciso.
Isso vem, com
veemente certeza, da unilateralidade da análise, sem investigação dita
holística, do todo, e das implicações gerais da introdução de um vetor-solução
sobre as demais partes da matriz. Só muito tardiamente foram perceber, na
ecologia, que os antigos agricultores, em suas práticas milenares, não eram
exatamente bobos, pelo contrário. Agora recomendam os agrônomos e biólogos como
novidade, que eles teriam descoberto, o que aqueles agricultores e pecuaristas
faziam, justamente àquilo que eles negavam sustentação científica e técnica.
Pois bem, se o mundo
está sendo assombrado pelos demônios, igualmente está sendo assombrado pelos
cientistas e técnicos. Nos dois sentidos: 1) o positivo, das coisas espantosas
que têm feito, e 2) dos espíritos perversos da Ciência ditatorial, que impõem
as soluções, como se todos os seres humanos fossem tolos que devessem render
graças pela benignidade dos pesquisadores.
Resultou de tal
orgulho desmedido que o mundo vem sofrendo conseqüências devastadoras em
virtude dessa prepotência e unilateralidade, dessa superioridade
aborrecidíssima, cujo custo total em consertos e reparações não sabemos
avaliar, mas que seguramente será rateada pela coletividade mundial, Brasil e
Espírito Santo no meio.
Ficamos com essa
constatação: de que os demônios por vezes se apresentam com o que parecem ser
ótimas soluções científicas. E com a certeza inequívoca de que devemos tomar
mais cuidado no futuro, e avaliar melhor as propostas de aplicação de recursos
públicos e privados nas ciências.
Vitória,
sexta-feira, 19 de abril de 2002.
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