Dois Mil Artigos
Por diversas vezes
me convidaram para escrever em jornais. Primeiro foi O Pioneiro, de Linhares,
em 1974 e 1975, quando eu estava em Vitória. Depois, quando voltei a Linhares,
entre 1984 e 1987, tornei a escrever para ele e outro jornal de lá. A seguir
foi A Tribuna, em 1988 e 1989, e A Gazeta, um tanto depois, pelas mãos de
Carlos Umberto Filipe.
Eles sempre me
cortam. Acho que não gostam da minha forma de abordagem, sei lá. Ou talvez meus
artigos não interessem mesmo.
Mais recentemente,
neste ano de 2002, tentei de novo A Gazeta, através do nosso amigo CUF, mas
eles nada publicaram.
A outra vez que
escrevi para este jornal, de 110 artigos que fiz publicaram 11, uns 10 %. Há
muita gente escrevendo para a coluna de opiniões, principalmente gente famosa,
entre outros, daí não me darem espaço. Não fico chateado, mas o fato é que tive
que me conter na abordagem dos assuntos, porque o público leitor poderia não
tolerá-los.
Então, pensei,
quantos artigos eu poderia escrever, abordando os livros que leio?
Bom, fico fora dois
dias e meio (48 horas mais viagens de ida e volta), sobram cinco dos seis de
folga. Se escrever três por dia, são 5 x 3 = 15, fora as falhas. Seriam 667
dias diretos, coisa de 1,83 ano. Contando que são cinco em cada oito dias, num
ano seriam aproveitáveis uns 228 dias. Daí 667/228 = 2,93, quase três anos para
os dois mil artigos.
Então posso escrever seis mil artigos em nove
anos, tendo tempo de vida e condições de fazê-lo em relativo sossego.
Qual a utilidade e significado deles? Eu não
sei, mas como penso continuamente e não posso ficar guardando isso na minha
cabeça, o jeito é colocar para fora e torcer para que tenham algum sentido e
proveito para a humanidade, que sejam de alguma ajuda.
Em termos de páginas,
creio que seriam em geral duas, talvez três, digamos 2,5 por artigo, no total
dos nove anos coisa de 22,5 mil páginas, o mesmo tanto que o modelo,
posteridades e ulterioridades, exceto que neste conjunto existiam muitos
gráficos, folhas para capítulos e repetições no primeiro capítulo do esboço
geral, para tornar o texto independente inteligível pelo leitor que o lesse
isoladamente.
Juntando uns 50 em
cada bloco teríamos 450 grupos, menos que os 618 (252 do modelo e 366 das
posterioridades/ulterioridades) do outro conjunto que fiz, também em nove anos.
Com isso posso
varrer minha experiência em leitura.
Sou leigo, não
formado em faculdade, embora tenha passado duas vezes em engenharia, duas em
física e uma em filosofia, deixando os cursos incompletos.
Digo tudo isso para
chamar atenção para o que podemos fazer para ajudar, um pouco que seja, as
pessoas (indivíduos, famílias, grupos e empresas) e os ambientes
(municípios/cidades, estados e mundo), com o tiquinho que sabemos. Mesmo que
seja ínfimo nosso conhecimento, ele pode servir a alguém, adiantando um ponto
de vista que, por um pequeno bloqueio, não permitisse desvendar um objeto ou
sujeito.
Isoladamente podemos
pouco, os indivíduos, mas não estamos sós. Estamos em conjuntos crescentes, de
famílias ao mundo. O precário que façamos pode ser auxílio significativo. É
como na fábula recente dos ecologistas, na qual um beija-flor, portando um
dedal de água, corre para tentar apagar o fogo que consome a floresta da qual
um bando de bichos muito maiores foge. À zombaria de que ele nada poderia fazer
ele responde que pelo menos está tentando ajudar, não está fugindo.
Se cada um fizer um
pedacinho, pode ser que a gente consiga – como diz o povo, com a ajuda de Deus,
na realidade, Natureza/Deus, Ela/Ele, ELI.
E fica também como
instruções aos meus filhos.
E como mensagem aos
que gostam um pouco que seja de mim, amigos e parentes.
Não sou modesto,
longe disso, é só que somos realmente diminutos, relativamente ao todo. Em cada
um, claro que não, temos nosso tamanho definido.
O problema parece
ser que todo mundo quer ser publicado, ou publicado já, sem contar que podemos
ter uma postura mais reservada, de longo prazo, garantindo um falar lento e
macio com todos e cada um, sem evidenciação. Na minha ânsia de servir, de
colaborar, eu também desejei muito expor os assuntos, com uma ponta de
sofreguidão de ser aceito e reconhecido.
Entretanto, pensando
bem, essa exposição, sobre ser acabrunhante, humilhante, prostrante, é
contraproducente, negativa, contrária aos nossos melhores interesses de
pesquisadores profissionais ou leigos. Se a exposição for de 1 a 99 % (pois
ninguém atingiria a unanimidade) de fama ou apelo geral do povelite/nação, ou
qualquer conjunto, sobra cada vez menos tempo para buscar e ser útil
escrevendo. De todo modo, pessoas muito famosas em seu tempo acabam por
desaparecer do cenário logo em seguida, como podemos ver em tantos exemplos
históricos, alguns bem recentes, de pessoas consideradas luminares em suas
vidas e que um século depois se tornaram completamente obscuras, portanto não
lidas.
Devemos
perguntar-nos: o que desejamos mesmo, apenas o nosso ou o total proveito?
Como diz o povo com
tanta graça, há gente desejando aparecer, nem que seja como o papagaio de
pirata pousado no ombro do personagem principal, como ator coadjuvante muito
remoto ou mero extra do filme da Vida-racional geral.
O melhor é despir-se
desses sentimentos, e deixar que o mundo chegue àquilo de que ele necessitar.
Então, quando pensei
isso, vi que tinha mesmo que escrever, não importando se teria serventia.
Primeiro, tem para mim, como um desabafo, um desafogamento, um desanuviamento
mental, uma terapia. Depois, se tiver para a coletividade, ficarei mais feliz
ainda.
Vitória,
terça-feira, 07 de maio de 2002.
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