Atratividade das
Órbitas
Os cortes espaciais
são quatro: ponto, linha, plano e espaço, e devemos considerá-los todos na
modelação dos sistemas estelares.
Na formação do
sistema solar e de toda a nossa constelação a partir da esferoidal Nébula
de Formação primordial, do pó e do gás gerados pela explosão local de
uma supernova (que fabrica os elementos a partir do hélio), a agregação
sucessiva produziu os vários objetos.
A Terra e a Lua não
tinham o tamanho que têm hoje. Foram crescendo desmesuradamente com a queda
contínua de meteoritos. A prova disso são os satélites de Marte, Fobos
(diâmetro maior do elipsóide de 27,0 km) e Deimos (idem, 15,0 km), que são
meteoritos capturados, e nem dos maiores. Quando um meteorito cai na Terra a
cratera que abre tem dez vezes o seu diâmetro maior, portanto Fobos e Deimos
abririam buracos de 270 e 150 km. Para se ter uma idéia, o tamanho estimado do
meteorito que caiu na península de Iucatã é de 16 km (portanto abriu uma
cratera de 160 km, o que bastou para extinguir 70 % da vida terrestre há 65
milhões de anos, arrasando quase tudo e terminando a era dos dinossauros).
Graças a Marte escapamos de dois, bem maiores.
O quanto devemos
agradecer a Marte e à Lua podemos estimar olhando as crateras de um e da outra,
e são milhares. Não foi só o tectonismo ou orogenia (formação das montanhas),
vulcanismo ou atividade dos vulcões, a degradação ambiental pelos ventos
(erosão eólica) ou pelas chuvas (erosão pluvial), ou, mais recentemente, a
degradação ambiental pelos seres humanos que ocultaram as crateras, é que os
corpos celestes do sistema solar detiveram a maior parte dos objetos
incidentes, em particular Marte e a Lua, porque nada, é claro, vem de dentro,
da parte interna do SS abaixo da órbita terrestre.
Podemos imaginar a
pseudo-esfera primordial se aglomerando em volta do que é hoje a eclíptica,
o círculo de dominação gravitacional do Sol. Pó e gás caíam de cima, o que
é raro hoje em dia. Tudo que venha de cima vai encontrar enormes buracos. Para
se ter uma idéia, se o Sol fosse uma bola abraçável de um metro de diâmetro (na
realidade 1.396.000 km), a Terra teria só 9,1 mm (diâmetro real de 12.744 km),
menos de um centímetro, e estaria situada a 107,5 metros de distância. E as
outras distâncias SÃO GRANDES, maiores ainda quando se vá para fora. Plutão
(diâmetro estimado de 3 mil km) teria, presumidamente, 2,2 mm e se colocaria a
4.226,4 metros.
Agora, como os
objetos estão todos no mesmo plano, denominado eclíptica, resulta que eles
formam guarda-chuvas (guarda-meteoritos) bastante significativos. Repare que a
Terra tem um diâmetro de 12.744 km e a Lua de 3.480 km, situando-se esta entre
o máximo de 450 e o mínimo de 300 mil, média de 380 mil km, ou seja, entre 35,5
e 23,5, média de 29,8 diâmetros terrestres. A Lua cerca muita coisa do espaço,
que de outro modo seria endereçada a nós. Dizem que Terra e Lua são planetas
irmãos, e são mesmo, em mais de um sentido. A Lua leva as pedradas.
Ela gira em torno da
Terra, período de translação, em aproximadamente 28 dias, e o seu período de
rotação é o mesmo, de forma que ela mostra sempre a mesma face para nós,
ficando uma escondida, a Face Escura da Lua. Em metade desse tempo ela fica
formando um semicírculo em volta da Terra, ou seja, durante 14 dias temos maior
proteção, justamente do lado donde viriam os meteoritos, o de fora, enquanto os
outros 14 dias ela está para dentro, de onde não vem meteorito algum. Nesse
tempo estamos desguarnecidos. E também de tudo que passar fora da influência
gravitacional (ou gravinercial) da Lua.
E mais distante, a
228 milhões de km contando do Sol, Marte também nos defende. Não do mesmo modo
que a Lua, mas mesmo assim ajuda. Situando-se a 150 milhões de km do Sol, a
Terra dista em aproximação mínima de Marte 78 milhões de km.
Além de Marte está o
Cinturão de Asteróides, que é para o Sol o que os anéis são para Júpiter,
Saturno (os maiores que há), Urano e Netuno. Aí mora o perigo. Os meteoritos ou
asteróides (“forma de estrelas”) são milhares, desde o maior deles, Ceres, com
1.020 km (se caísse na Terra abriria uma cratera de 10.200 km, quase todo o
diâmetro planetário – despedaçaria nosso mundo), havendo 93 com mais de 200 km
e 96 com diâmetros que vão de 80 a 200 km, sem falar nos milhares (mais de 500
mil, dos quais mais de dois mil estão catalogados e nomeados) de médios e
“pequenos”, de 200 metros, por exemplo, mas que já causariam um estrago
significativo.
Devido à presença do
gigante gasoso Júpiter, formam-se dois grupos fora do Cinturão, chamados
Troianos (dos quais foram descobertos só 2 a 3 %), situados a distâncias iguais
daquele planeta (nos Pontos de Lagrange), em sua órbita em torno da estrela,
formando triângulos, com os troianos situados nos vértices, à esquerda e à
direita, onde se dá o empate gravitacional lateral na disputa entre o dominante
central, o Sol, e seu filho que é seu maior contentor, Júpiter, que o detém em
três pontos, esses dois e mais um, situado para dentro.
A distância de
Júpiter ao Sol é de 778 milhões de km, a relação da massa do Sol (m s)
e da massa de Júpiter (m j) é de 1.046 = m s / m j =
k. Na fórmula F = G m1.m2 /d2 (onde G é a
constante gravitacional), sendo s 2 a distância do Sol ao zero
gravitacional entre ambos e j 2 a distância de Júpiter,
obtemos que J = S √ 1/k = S √ 1/1.046 = 24,1
milhões km, contando de Júpiter, ou 754 milhões de km, contando do Sol, mais de
97 % da distância total entre ambos, desconsiderados os raios, relativamente
não-significativos. Júpiter é grande, mas o Sol é imensamente maior, e o
gigante gasoso fica só com 3 % da luta.
Além disso, existem
os Hilda (como Apolo, Adonis, Ícaro), que se supõe serem antigos troianos que
foram capturados pela atração/repulsão gravinercial do Sol, e precipitam-se
rumo a ele.
O que vem de mais
longe de Júpiter é em parte detido pelos planetas exteriores. Júpiter segura
muito mais (lembre-se do cometa S-L, que caiu faz alguns anos naquele planeta
em 21 pedaços).
O Cinturão de
Asteróides forma uma faixa situada entre 2,17 e 3,67 UA (Unidade Astronômica,
que é a distância média Terra-Sol, de 150 milhões de km), portanto de 300 a 550
milhões de km. Outros estão além (1 %) ou aquém (3 %). Como, para o lado do
Sol, Júpiter só vai até 24,1 milhões de km, o Cinturão de Asteróides é
prisioneiro do Sol, que vai até 754 milhões de km, mais de 200 milhões de km
além dos limites do CA. Nisso Júpiter não pode enfrentar seu pai.
Usando a mesma
fórmula, achamos que o empate gravitacional da Terra com o Sol se dá a apenas
260,0 mil km do nosso planeta (o Sol fica com 99,83 %), ou 20,4 diâmetros
terrestres. A dupla Sol-Terra também tem o equivalente de troianos nos pontos
lagrangeanos equivalentes, no enxame de meteoritos que nos rodeia. Isso nos
mostra que a Lua passa sempre entre o Sol e o empate gravinercial S/T. Se a
Terra tivesse um cinturão, ele ficaria dentro da órbita da Lua. Pode ter tido,
porém se teve todos os meteoritos já caíram na Terra logo nos primórdios,
porque, lembre-se, no caso de Júpiter o Cinturão fica aquém do empate, e não
além; ele não fica dentro da curva definida pelo ponto de empate. Se Júpiter
tinha um cinturão tudo já foi absorvido, restando alguns exemplares como
satélites não-circulares.
O empate
gravinercial de Marte situa-se a 129,3 mil km do centro daquele planeta (o Sol
fica com 99,94 %), ou 19,0 dos seus diâmetros (6.790 km). Numa área de metade
do círculo, o semicírculo voltado para o Sol é de 18,1 milhões de km2,
onde Marte vence o Sol, e puxa tudo para ele. Pode parecer pouco, mas através
dos bilhões de anos teve grande significado.
Quanto à Lua, seu raio é de 1.740 km. O empate
gravinercial dela com a Terra se dá em L = T √ 1/k = T √ 1/ 81,3 = 4,7 mil km
(pela média de 380 mil km para a órbita da Lua) de seu centro, portanto apenas
3,0 mil km além da superfície dela. Tudo que estiver aquém disso a Terra puxa
para si. Apesar de pouco, pense nos bilhões de anos. O semicírculo é de 4,8 milhões
de km 2. É um guarda-chuva relativamente grande. Tudo que o Sol
capturar e ficar dentro dele a Lua puxa para si, e nela cai. Foram muitos
milhares de meteoritos grandes e pequenos, seria preciso fazer a conta a partir
das crateras que restaram, pois existem milhares delas que foram ocultadas
pelas seguintes e mais recentes.
Veja o que Marte e a
Lua fizeram por nós! Contando as crateras poderemos estimar melhor.
E seria preciso ver
que, da órbita da Terra, de 942,5 milhões de km, esta ocupa 1,35/1.000 % com
seu diâmetro, ou 0,00135. Caso o Sol atraia um meteorito ou cometa, a chance de
ele passar longe da Terra é de 74,0 mil para um. A chance favorável de
Júpiter é de um para 34,2 mil (diâmetro dele dividido pela circunferência da
órbita), menos de metade daquela da Terra. Segue-se que Júpiter (seria o caso
de fazer as outras contas) está mais de duas vezes mais sujeito a receber
meteoritos que a Terra, se levássemos em conta só esse indicador.
Veja só, a isso
chamei de “atratividade das órbitas” – a sujeição dos objetos ao bombardeio de
outros objetos do sistema.
A Terra está muito
sujeita, mas outros planetas e satélites estão mais. A chance favorável de
Vênus é de um para 56,1 mil, menor que a do nosso mundo. A de Marte é um para 211,0
mil, maior, e a de Mercúrio é de um para 74,6 mil, quase igual à da Terra. A da
Lua é um para 686,1, em relação aos puxões da Terra, enormemente menor, na base
de quase 108 vezes para um, em favor da Terra.
Enfim, a situação
parece bem favorável, o que reforça o chamado “princípio antrópico”, de que
tudo foi preparado para nossa felicidade. Foi, pela Natureza, mas tudo é
parcialmente o contrário, também, pois estamos aqui PORQUE os meteoritos não
caem com tanta freqüência. Os dois lados, direto e inverso, valem. Como será em
outros sistemas estelares? A existência da Lua foi uma “mão da roda”, como diz
o povo. Se ela não estivesse lá, estaríamos MUITO MAIS sujeitos aos choques. E
quanto aos outros mundos terrestróides noutros sistemas estelares, eles têm ou
não satélites que façam essa “limpeza”? Não os ter vai significar um bocado de
aborrecimento, porém a Vida geral, enquanto princípio ou conceito, é bem
resistente, e deve ter encontrado soluções variadas para subsistir. Vai ser
interessante ver.
Vitória,
quarta-feira, 22 de maio de 2002.
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