domingo, 18 de dezembro de 2016


A Memória do Caos

 

                            No modelo há memória e inteligência, o par oposto/complementar, dois motores independentes.

                            Então, em certa mesa me veio essa coisa de “memória do caos”: que é como nos separamos do caos, pois como alguém disse a memória é o que nos separa do caos. Que memória seria essa?

                            É a história, o modo como as elites se separam do povo, enquanto a geografia é como o povo se separa das elites. Mais certo seria falar das massas, a grande maioria que trabalha em silêncio, ao passo que a pequena maioria (como eu disse noutro texto) usufrui, enquanto não vier o comunismo e logo a seguir o anarquismo. Então temos pelo centro a geo-história, o povelite/nação.

                            Se segue daí que a MEMÓRIA DO CAOS serve às elites, enquanto o CAOS DA MEMÓRIA serve ao povo. A memória do caos, embora possa até não parecer, é a inteligência, a memória nova, a re-novação, enquanto o caos da memória é a memória, a inteligência velha, a “re-velhação”, o que leva à repetição, à ortodoxia, aos rituais, às ditaduras que têm medo do futuro.

                            A inteligência é do que dependem as elites para prosperar e penetrar o futuro, para dominar e explorar as massas. Ela domina e memoriza o caos que as massas tendem a produzir. As massas, por outro lado, quando querem cooptar a revolução que interessa às elites, investem em tornar a memória caótica, destruindo os edifícios públicos e privados que viabilizam o passado (do qual devem se lembrar as elites para fugir à repetição – então as elites o mantém quanto podem, mas não por amá-lo) opressor, liberando aquele futuro progressista, não-repetitivo, das elites desenvolvimentistas (a burguesia mais avançada).

                            Memorizar o caos exige inteligência, pois não se trata da memória anterior e sim da memória nova, para a qual não existe classificação. Ela não está em escaninhos, em boxes, razão pela qual as elites devem penar para entender. Empregam nessa tarefa legiões de historiadores recém-saídos do forno universitário, vibrantes em entusiasmo por descobrir coisas e conseguir espaço e respeitabilidade. Assim, incidentalmente, continuam a ajudar as burguesias do mundo a dominar as massas locais. Que fazer?

                            Não há nada a fazer?

                            Começando com as pessoas (indivíduos, famílias, grupos, empresas) e ambientes (municípios/cidades, estados, nações e mundo), o poder vai crescendo. Embora pouco possamos fazer como indivíduos, pois o mundo em si é muito grande, nele já está a semente da mudança, até atingirmos o equilíbrio da memórinteligência ou inteligênciamemória, tanto faz.

                            Enquanto isso precisamos olhar melhor, compreendendo como a inteligência produz a memória nova sobre o caos de autodefesa das massas e como estas respondem com a destrutividade da memória velha, fixando-se a esta com furor e firmeza inapeláveis.

                            Vitória, domingo, 23 de junho de 2002.

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