terça-feira, 14 de fevereiro de 2017


Xerox

 

                            A Xerox é uma superpotência entre as empresas, por si só maior em produção que muitos países, vá procurar os dados. Está presente na maior parte deles, onde é sempre destacada, mesmo com a competição das máquinas japonesas. Daria para fazer muitos livros sobre ela, até mais interessantes que esses que já estão circulando por aí.

                            Entrementes, como a soma é zero, além de “xerox” já ter significado cópia heliográfica e hoje denotar qualquer cópia, até mesmo a semelhança genética, como quando dizemos que fulano é a xerox de outro, e, enfim, não sabermos mais viver sem as cópias de trabalhos de toda espécie, de o mundo não poder funcionar sem aquelas máquinas, sem as quais empobreceria substancialmente, há o fato de que quase todos tirarem cópias dos livros.

                            O modelo diz que 50 % serão avessos a copiar livros, mas que 50 % os replicarão com gosto, enquanto 2,5 % o farão sempre, em qualquer condição, do outro lado 2,5 % não o fazendo nunca. Isso quer dizer de imediato que as edições poderiam ter o dobro das dimensões de agora e em caso extremo 40 vezes tanto quanto.

                            Quando a gente vai às lojas de cópias e vemos a quantidade de livros que estão sendo abertamente copiados, se espanta, porque efetivamente os autores estão perdendo com isso.

                            Como julgar tal multiplicação das cópias ilegais?

                            Quando meus livros estiverem circulando vou querer impedir isso? Não, de modo algum. Em primeiro lugar, há as limitações do modelo, postas acima. Em segundo lugar, pense em como o conhecimento está se disseminando, meramente à custa de um enriquecimento pouco maior dos indivíduos e de suas famílias! Nós bem podemos encontrar outras fontes de renda, outras origens de riqueza, deixando àqueles que desejem essa saída. O importante é a leitura, o fundamental é o entendimento, que faz prosperar a humanidade.

                            Cópia de livro nunca vai ser como o livro mesmo, para quem os aprecia, ama e pode comprar. Ficam para aqueles o uso da superabundância oferecida pela pirataria e para os amantes a preciosidade que é ter um livro, essa manifestação tangível, enquanto peso e substância palpável, daquela outra manifestação intangível, a sabedoria. Ter um produto acabado, bem editado, belamente encapado, duradouro, entre as mãos, é quase como ter a presença, a amizade e o amor de uma mulher, postas as diferenças.

                            Há quem goste de fast food e há os que apreciam a presença carinhosa do ninho da mamãe (ou da esposa), o afago, a intimidade valorizada. Cada um que fique com o que gosta mais.

                            E os autores também não devem ficar aborrecidos, desde quando sabem que suas palavras, sua especial visão e percepção total de mundo passaram adiante, e talvez ajudem, um pouco só que seja, a modificar para melhor o universo. Não devemos agradecer isso? Pois se até o Mal, o mal absoluto, é usado para os propósitos, quanto mais o seria a profusão de cópias não autorizadas.

                            Vitória, segunda-feira, 21 de abril de 2003.

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