Seu Juca, a Bondade
que Sustenta o Mundo
Pequiá é o pequeno
distrito de Iúna onde fica o Posto Fiscal Zito Pinel, aonde vou a serviço com
certa regularidade. A vila fica bem na divisa, descendo à direita da ponte, do
outro lado dela estando Minas Gerais. É pequena e o “seu” Juca, benzedor, é
morador ao qual fui em busca de solução para a isquemia de esforço, nome atual
da angina pectoris de 30 anos atrás, que minha mãe teve. Por atraso de
pagamento dos nossos salários pelo safado do JIF fiquei devendo três meses à
UNIMED. Fui lá negociar o pagamento, mas a entidade não aceitava; colocou-me na
condição de inadimplente, fazendo-me então migrar do Plano Empresarial (do
SINDIFISCAL, que cobre tudo) ao Plano Participativo, particular, que cobra
metade das consultas e trazia nova carência para operações do coração. Visando
proteger meus filhos, fiz, não imaginando que iria necessitar do tal
cateterismo, que custa R$ 1,7 mil e só estará liberado em 28.fevereiro.2003.
Seguramente uma armadilha do destino, muito bem enquadrada.
Com tal dor no peito
fui ao “seu” Juca, que é homem simplíssimo, como o são em geral as (e os)
benzedoras (es), que nunca cobram por suas rezas. Ele, em particular, usava uma
calça surrada, velha - é lavrador, batalhador. Mesmo quando eu não acreditava
em Deus, dos 18 aos 43, acreditava nas rezas, porque se trata de conhecimento
mais à frente, completamente material, não disponível agoraqui enquanto
explicação. Como antes em Santa Cruz, com o homem que rezou e curou meu joelho rompido
no menisco (de eu me arrastar), “seu” Juca baixou a cabeça e orou. Se vai
resultar eu não sei, mas eu creio que sim, pois ele pediu por mim. Seja à
Natureza, seja a Deus, ele se compadeceu.
Aquele lá de Santa
Cruz, divisa com o Rio de Janeiro, foi convertido a uma dessas seitas idiotas
de protestantes, porque em tese as rezas ofenderiam a Deus. Por quê? Essa gente
é muito tola. Não é magia, é apenas um pedido de uma alma simplíssima, ingênua,
quase infantil, totalmente despojada de orgulho. Isso é de uma doçura de crença
tocante.
Acho que é por gente
assim que o mundo ainda continua existindo, porque se dependesse do orgulho
desmedido dos citadinos, tudo já teria ido para o brejo.
Vitória,
sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003.
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