quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017


Seu Juca, a Bondade que Sustenta o Mundo

 

                            Pequiá é o pequeno distrito de Iúna onde fica o Posto Fiscal Zito Pinel, aonde vou a serviço com certa regularidade. A vila fica bem na divisa, descendo à direita da ponte, do outro lado dela estando Minas Gerais. É pequena e o “seu” Juca, benzedor, é morador ao qual fui em busca de solução para a isquemia de esforço, nome atual da angina pectoris de 30 anos atrás, que minha mãe teve. Por atraso de pagamento dos nossos salários pelo safado do JIF fiquei devendo três meses à UNIMED. Fui lá negociar o pagamento, mas a entidade não aceitava; colocou-me na condição de inadimplente, fazendo-me então migrar do Plano Empresarial (do SINDIFISCAL, que cobre tudo) ao Plano Participativo, particular, que cobra metade das consultas e trazia nova carência para operações do coração. Visando proteger meus filhos, fiz, não imaginando que iria necessitar do tal cateterismo, que custa R$ 1,7 mil e só estará liberado em 28.fevereiro.2003. Seguramente uma armadilha do destino, muito bem enquadrada.

                            Com tal dor no peito fui ao “seu” Juca, que é homem simplíssimo, como o são em geral as (e os) benzedoras (es), que nunca cobram por suas rezas. Ele, em particular, usava uma calça surrada, velha - é lavrador, batalhador. Mesmo quando eu não acreditava em Deus, dos 18 aos 43, acreditava nas rezas, porque se trata de conhecimento mais à frente, completamente material, não disponível agoraqui enquanto explicação. Como antes em Santa Cruz, com o homem que rezou e curou meu joelho rompido no menisco (de eu me arrastar), “seu” Juca baixou a cabeça e orou. Se vai resultar eu não sei, mas eu creio que sim, pois ele pediu por mim. Seja à Natureza, seja a Deus, ele se compadeceu.

                            Aquele lá de Santa Cruz, divisa com o Rio de Janeiro, foi convertido a uma dessas seitas idiotas de protestantes, porque em tese as rezas ofenderiam a Deus. Por quê? Essa gente é muito tola. Não é magia, é apenas um pedido de uma alma simplíssima, ingênua, quase infantil, totalmente despojada de orgulho. Isso é de uma doçura de crença tocante.

                            Acho que é por gente assim que o mundo ainda continua existindo, porque se dependesse do orgulho desmedido dos citadinos, tudo já teria ido para o brejo.

                            Vitória, sexta-feira, 21 de fevereiro de 2003.

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