quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017


Raciocínio Tardio

 

                            Embora o livro que vou usar como referência seja antigo (Alexandre Gnocchi, Patentes Multinacionais no Brasil, São Paulo, edição do autor, 1975), ainda vale para o argumento. Vá investigar a situação atual, se lhe interessar.

                            Por ele vemos que no período de 1964/1973 dos 4.005.765 depósitos de patentes 3.317.005 ou 82,8 % procederam de apenas seis países, a saber:

                            PAÍS                                PATENTES (mil)               PERCENTUAL

                            URSS                                             1.104,5                             27,6

                            Japão                                            784,8                              19,6

                            EUA                                               684,8                              19,1

                            Alem. Ocid.                                   348,0                             8,7

                            Inglaterra                                    238,3                              6,0

                            França                                           156,7                               3,9      

                            TOTAL (erro na fonte)                                                     84,9                                               Veja que os EUA ficaram para trás, foram ultrapassados não somente pela URSS como pelo Japão, e que os três primeiros somavam 66 % (com os restantes países todos ficando com 34 % - três países com 2/3, todos os demais para 1/3). Há um deslocamento notável, o superpoder correspondendo à supercapacidade de patentear ou à capacidade de superpatentear. Ah! - mas pensamos isso PASSADOS 30 ANOS, de 1973 a 2003.

                            Pensamento tardio, com as conseqüências lamentáveis de praxe, e com a depressão associada de vermos que não tomamos as devidas providências, por exemplo, aquelas do espalhamento dos quiosques de patentes (os “patentiosques”). Se o Brasil quiser ser uma superpotência deve se tornar um superpatenteador, o que está muito longe de ser, estando como está atualmente na rabeira. Não há estímulos aos inventores daqui, nem os culturais nem os financeiros. Nem os governos nem as empresas ajudam. Não há uma CULTURA ESCOLAR DA INVENÇÃO, que é tomada como atividade marginal, neste país de fundo civilizatório português.

                            Agora, uma questão diferente se põe: se a URSS estava, desde faz bastante tempo e até 1991, quando ela caiu, ACUMULANDO UM TERÇO DAS PATENTES MUNDIAIS, isso significa que há por lá tremendo acervo de patentes de todo teor, muitas delas evidentemente caducas, mas muitas ainda utilizáveis, podendo derramar-se sobre o Ocidente a partir do que denominei marco da pós-contemporaneidade, o ano de 1991. Significa, sem dúvida alguma, que há um repositório formidável de conhecimento enterrado dentro das bibliotecas ex-soviéticas à espera dos aventureiros que possam e desejem comprá-las (a preço de banana podre, relativamente), ou fazer acordos de partilhamento, indo até o INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) de lá.

                            Note que no ano de 1973 a posição do Brasil era a 17ª com 2.495 patentes, enquanto a produção de registros do mundo foi de 427.288 no mesmo ano e a da URSS 110.845; portanto, a do Brasil foi de 1/171 do mundo, 1/44 da URSS. Tal é a distância que o Brasil mantinha das superpotências, e que, com os números ligeiramente mudados ainda mantém, na base de 1/50 do poder da frente, antes EUA, URSS e Japão, agora EUA e Japão, despontando a China, através da produção e do roubo deslavado de idéias alheias.

                            Veja só como descobrimos de onde vem o verdadeiro poder. E nem poderia ser diferente, dado que, como afirmou Francis Bacon, conhecimento é poder. Os detentores do superpoder são os detentores do superconhecimento. Por isso faz todo sentido os EUA insistirem que tudo deve ser patenteado lá, porque os conhecimentos ficam pertinho, ali na esquina.

                            Vitória, sexta-feira, 28 de março de 2003.

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