Raciocínio Tardio
Embora o livro que
vou usar como referência seja antigo (Alexandre Gnocchi, Patentes Multinacionais no Brasil, São Paulo, edição do autor,
1975), ainda vale para o argumento. Vá investigar a situação atual, se lhe
interessar.
Por ele vemos que no
período de 1964/1973 dos 4.005.765 depósitos de patentes 3.317.005 ou 82,8 %
procederam de apenas seis países, a saber:
PAÍS PATENTES
(mil) PERCENTUAL
URSS 1.104,5 27,6
Japão 784,8 19,6
EUA 684,8 19,1
Alem. Ocid. 348,0 8,7
Inglaterra 238,3 6,0
França 156,7 3,9
TOTAL (erro na fonte) 84,9 Veja que os EUA ficaram para trás,
foram ultrapassados não somente pela URSS como pelo Japão, e que os três
primeiros somavam 66 % (com os restantes países todos ficando com 34 % - três
países com 2/3, todos os demais para 1/3). Há um deslocamento notável, o superpoder correspondendo à
supercapacidade de patentear ou à capacidade de superpatentear. Ah! - mas
pensamos isso PASSADOS 30 ANOS, de 1973 a 2003.
Pensamento tardio,
com as conseqüências lamentáveis de praxe, e com a depressão associada de
vermos que não tomamos as devidas providências, por exemplo, aquelas do
espalhamento dos quiosques de patentes (os “patentiosques”). Se o Brasil quiser
ser uma superpotência deve se tornar um superpatenteador, o que está muito
longe de ser, estando como está atualmente na rabeira. Não há estímulos aos
inventores daqui, nem os culturais nem os financeiros. Nem os governos nem as
empresas ajudam. Não há uma CULTURA ESCOLAR DA INVENÇÃO, que é tomada como
atividade marginal, neste país de fundo civilizatório português.
Agora, uma questão
diferente se põe: se a URSS estava, desde faz bastante tempo e até 1991, quando
ela caiu, ACUMULANDO UM TERÇO DAS PATENTES MUNDIAIS, isso significa que há por
lá tremendo acervo de patentes de todo teor, muitas delas evidentemente
caducas, mas muitas ainda utilizáveis, podendo derramar-se sobre o Ocidente a
partir do que denominei marco da
pós-contemporaneidade, o ano de 1991. Significa, sem dúvida alguma, que há
um repositório formidável de conhecimento enterrado dentro das bibliotecas
ex-soviéticas à espera dos aventureiros que possam e desejem comprá-las (a
preço de banana podre, relativamente), ou fazer acordos de partilhamento, indo
até o INPI (Instituto Nacional de Propriedade Industrial) de lá.
Note que no ano de
1973 a posição do Brasil era a 17ª com 2.495 patentes, enquanto a produção de
registros do mundo foi de 427.288 no mesmo ano e a da URSS 110.845; portanto, a
do Brasil foi de 1/171 do mundo, 1/44 da URSS. Tal é a distância que o Brasil
mantinha das superpotências, e que, com os números ligeiramente mudados ainda
mantém, na base de 1/50 do poder da frente, antes EUA, URSS e Japão, agora EUA
e Japão, despontando a China, através da produção e do roubo deslavado de
idéias alheias.
Veja só como
descobrimos de onde vem o verdadeiro poder. E nem poderia ser diferente, dado que, como afirmou Francis Bacon,
conhecimento é poder. Os detentores do superpoder são os detentores do
superconhecimento. Por isso faz todo sentido os EUA insistirem que tudo
deve ser patenteado lá, porque os conhecimentos ficam pertinho, ali na esquina.
Vitória,
sexta-feira, 28 de março de 2003.
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